Page 93 - O Que Faz o Brasil Brasil
P. 93
(ou ela) também se obrigue a resolver meu problema, atendendo
cortesmente a minha súplica.
Tudo indica que o santo atende melhor e reconhece mais
claramente o esforço dos mortais quando o pedido se faz de modo
solene e respeitoso, com algum formalismo. As rezas e os pedidos,
assim, “sobem” melhor quando há um sinal visível de comunicação
com o alto; algo que cristalize essa ligação, como a fumaça do
incenso ou as luzes das velas queimando...
Mas por que se fala com Deus? As respostas são muito variadas.
Um fator sociológico básico, porém, é que existe a necessidade de
construir esse grande espelho a que chamamos religião para dar a
todos e a cada um de nós um sentimento de comunhão com o
universo como um todo. A religião, assim, seria um modo de permitir
uma relação globalizada não só com os deuses, mas também com
todos os homens e com os seres vivos que formam o nosso mundo.
Também pensamos na religião como um meio de explicação para
os infortúnios — as coincidências negativas (como acidentes e
doenças) —, pois a religião pode explicar por que uma pessoa ligada
a nós ficou doente, sofreu um acidente fatal ou é vítima indefesa e
gratuita de desesperadora aflição. A religião, nesse sentido,
apresentaria a possibilidade de resgatar a indiferença do mundo, e
das coisas do mundo, relativamente à nossa consciência e à sua
necessidade de dar um sentido preciso a tudo, ordenando a vida e as
relações entre as coisas da vida. Falamos também de religião quando
estamos pensando no modo pelo qual a sociedade precisa legitimar
ou justificar a sua organização, a sua maneira de ser e os seus estilos
de fazer. Assim, a religião pode explicar também por que existem
ricos e pobres, fortes e fracos, doentes e sãos, dando sentido pleno às
diferenciações de poder que percebemos como parte do nosso
mundo social. Assim como há uma diferenciação no Céu, haveria
também uma diferenciação na terra, muito embora, aos olhos do
Criador, todos sejam singulares e amados igualmente. Nesse sentido,