Page 21 - LIVRO - FILOSOFIA COMO REMÉDIO PARA A SOLIDÃO - PUBLICAR
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Djason B. Della Cunha | 21

                Somente uma pessoa dotada de certa maturidade
            afetivo-emocional  é  capaz  de  vivenciar  uma  relação
            verdadeira, devido ao fato de ter-se liberado da exigên-
            cia das dependências e dirigir-se dentro de um padrão
            positivo de autonomia emocional. Na verdade, a auto-
            nomia – esta palavra que significa viver de acordo com
            as próprias regras – é o que permite a passagem da vida
            infantil para a vida adulta. A  maturidade existencial
            tem tudo a ver com a questão da autonomia e é exata-
            mente esta condição que permite ao indivíduo desen-
            volver a capacidade de viver sem muletas ocasionais.
            Aprender a responsabilizar-se pelos seus próprios pro-
            blemas, refleti-los antes de agir e de assumir o ônus das
            consequências de suas ações, sem projetar os erros, os
            enganos e as próprias falhas sobre os demais, é o que
            garante a possibilidade de se viver uma relação criativa
            e estimuladora com o outro, afastando o sentimento da
            culpa e, portanto, da expiação, que estão na raiz da so-
            lidão e, às vezes, do desespero.
                A relação não implica necessariamente em dispor
            do outro para eventualmente satisfazer as suas deman-
            das pessoais. Pelo contrário, significa demonstrar inte-
            resse pelo outro, compreendê-lo em suas necessidades
            e em suas razões. Por isso é que a compreensão não
            pode ser vista como um tipo de conhecimento. Nin-
            guém ensina a alguém a ser compreensivo. Enquanto
            o conhecimento se origina fora do sujeito e chega a ele
            através do entendimento, a compreensão tem origem
            no interior da pessoa e se exterioriza como aceitação e
            tolerância. Não é dogmática, crítica, erudita ou vulgar,
            nem lógica, valorativa ou interpretativa, nem  mesmo
            cúmplice. A compreensão é simplesmente paradoxal-
            mente humana. Esta é a condição da verdadeira rela-
            ção.
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