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22 | Filosofia como Remédio para a Solidão

                A relação quando é baseada na dependência tende
            a criar vínculos dependentes com pessoas onipotentes,
            que desejam recriar a simbiose primária: mãe-filho, e
            nesse tipo de relação patológica prospera a dimensão
            sadomasoquista que destina ao fracasso a própria rela-
            ção.
                É óbvio que não estamos aqui a fazer a apologia
            do negar-se a conviver, do experimentar com o outro a
            possibilidade da presença. É claro que não. O que ten-
            tamos deixar bem evidente é que não podemos colocar
            a nossa vida indiscriminadamente nas mãos dos outros
            e se ofertar sempre como uma oferenda em sacrifício,
            para poder gozar da beatitude da aceitação. Esta atitude
            tão comum em muitas pessoas só serve para fortalecer
            o ressentimento, a mágoa, a decepção e a frustração
            toda vez que este outro se nega, se omite ou se torna
            indiferente as nossas demandas afetivas infantis.
                Somente quando aprendemos a aceitar a solidão
            como uma experiência natural da condição humana é
            que temos a oportunidade de fazermos contato com o
            mais íntimo de nós mesmos e perguntar se realmente
            somos o que queremos ser, sem os melindres da auto-
            negação e do auto esquecimento. Sermos espontâneos
            e viver de acordo com as nossas próprias expectativas
            parecem ser as condições para se transitar no próprio
            caminho sem correr o risco de perder-se na fantasia da
            ligação  inexorável com o outro, sem a qual a  nossa
            vida não teria sentido, nem objetivo, nem razão de ser.

                Na verdade, o homem é o único animal capaz de
            inventar a regra do abandono de si mesmo e do auto
            esquecimento e de se colocar em uma situação de co-
            miseração diante do outro por acreditar que este outro
            é sempre a causa da desgraça do seu próprio destino.
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