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66 | Filosofia como Remédio para a Solidão
pedras, as nuvens, os mares e os animais existem, mas
são indiferentes. O homem, ao contrário, não é uma
coisa, mas um significante (objeto) do próprio desejo.
Por isso, a compreensão de sua essência exige a com-
preensão da própria existência, ou seja, é somente pela
experiência do vivido no âmbito da existência que ele
consegue atualizar a sua essência. No caso, a atualiza-
ção da essência do homem envolve a construção da
hybris, do seu destino.
Daí a perene contradição entre determinismo e li-
vre-arbítrio. A atuação do homem pressupõe inexora-
velmente uma escolha. Escolher, além de selecionar,
buscar alternativas e construir possibilidades, é res-
ponsabilizar-se pelas próprias escolhas e ações. O fato
de escolhermos implica em ter uma consciência e toda
consciência tem por trás um propósito, uma intencio-
nalidade. Por isso, é que a nossa vida é pautada na não-
indiferença. O ser humano está destinado a vivenciar a
sua vida, através de escolhas altruístas ou vis, uma vez
que se interessa em existir e consistir.
Se o existir significa tomar as rédeas da vida e es-
colher caminhos que nos conduzam à experiência de
vivenciar as alternativas e possibilidades que se dão
em todo o momento, o consistir tem a ver com o ocu-
par-se, com o fazer, com o praticar. Este é o antídoto
necessário para vencer os males da preocupação. Pas-
samos mais tempo preocupados com os problemas do
que agindo para resolvê-los. E o que é um problema?
Um problema não é mais do que uma questão que se
coloca desafiadoramente à inteligência humana. O
problema requer mais do que uma resposta explicativa,
ou seja, para se resolver um problema do ponto de vista