Page 67 - LIVRO - FILOSOFIA COMO REMÉDIO PARA A SOLIDÃO - PUBLICAR
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Djason B. Della Cunha | 67
existencial é necessário uma atitude. Se não assumir-
mos esta posição, o problema tende a permanecer an-
corado como um veleiro silencioso no porto de nossa
vida íntima. O movimento que temos que empreender
para dar conta do problema está inexoravelmente li-
gado à dimensão do tempo: do tempo cronológico, mas
muito mais do tempo psicológico.
Em se tratando da existência, portanto da experi-
ência de vivência da vida, há de se levar em conta o
tempo psicológico, ou seja, considerar o presente
como um “futuro sido” e trazer aquilo que deve ser
para o tempo do que é. Sim, porque o futuro de fato
não existe, é apenas a representação justificada da in-
satisfação do desejo. Por isso, uma das regras básicas
do viver é o movimentar-se, é o dirigir-se, é o atuar, é
o fazer, é o ocupar-se. Deve-se estar atento às deman-
das mais sutis da essência do ser, que só pode atualizar-
se pelo movimento do vivido, na busca sempre contí-
nua da resiliência, ou seja, do aperfeiçoamento da ca-
pacidade de enfrentamento de obstáculos e dificulda-
des. Viver não é erudição. É, sobretudo, saber ater-se.
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Ortega y Gasset , em sua filosofia raciovitalista,
diz que o Eu não é apenas o Eu. O Eu é ele e suas cir-
cunstâncias. Para ele, a vida não é teoria, mas reali-
dade. E a realidade, apesar de ser distinta do Eu, é ao
mesmo tempo inseparável dele, pois é a sua mais pro-
eminente circunstância. É tanto que para salvar o Eu,
o homem precisa primeiro salvar a sua circunstância,
visto que para Ortega não há como tomar o Eu sem sua
14 . ORTEGA Y GASSET, J. Meditações do Quixote. São Paulo:
Iberoamericana, 1967.