Page 47 - Revista PSIQUE Ciência e Vida
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Amor operacional
Não há dúvida de que as experiências advindas de forma geral, é agudizado. O amor para ser
com a internet também impactaram nosso legitimado precisa da confirmação do outro (no
imaginário acerca do amar. O que distinguimos caso do filmem deum sistema operacional), e
em nossa vida como amar é uma coexistência com isso Jonze mostra
legitima e ancorada no presente com outro que o personagem Se muitas vezes as redes
alguém, já que a ˜intenção de amar no amar nega Theodore não está tão
o amar, e a conduta que queremos seja amorosa descolado do real como sociais contribuem para criar
aparece manipuladora (Maturana,, 2009, p.83). poderíamos conceber uma falsa noção de mundo
Um dos últimos exemplos dessa realidade em outras ficções. Ao com projeções cruzadas
sobre o amar em tempos on-line e talvez por oscilar na busca do acerca de assuntos como
isso superando qualquer tentativa caricata olhar de aprovação politica, por exemplo a ela
de descrever o avanço de onde chegamos pela perspectiva do
em termos de avanço tecnológicos, é o filme outro, seja ele fruto da incide essa bolha fantasiosa
Her (ELA/2014). Ao explorar a realidade dos inteligência artificial a respeito do amar e do
relacionamentos on-line com a lente dos ou humana, o filme relacionar.
símbolos e metáforas, o diretor Spike Jonze destaca de forma
nos apresenta o escritor Theodore (Joaquin sensível a lógica desse movimento, que é tornar
Phoenix), script do homem moderno em aqueles que compartilham dessa dinâmica uma
que o mundo interno deixa de ser uma zona espécie de ator inseguro, cujo palco das redes
privilegiada de experiências para apostar, sociais acaba se tornando até mesmo mais
com certa dose de constrangimento, em um importante que a própria vida vivida em sua
relacionamento (idealizado e virtualizado) com plenitude no tempo presente.
um sistema operacional (a voz intimista que O desdobrar de todas continuidades do filme
interagem com o protagonista vem de Scarlett Her, que não merece ser pormenorizada, pois
Johansson). Aqui o mal-estar contemporâneo o filme é de rara beleza e profundidade, é o
a respeito do amar e das relações interpessoais, questionamento: até que ponto na atualidade as
Os aparelhos de
smartphone podem
ser considerados
como um dos
mais importantes
negantes
socioculturais na
atualidade
PSIǪUE Março 2019 - Ano 12