Page 48 - Revista PSIQUE Ciência e Vida
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Dossiê
formas de amar são influenciadas pelo universo
digital, confundindo o desejo de conexão com o
estar conectado?
Se muitas vezes as redes sociais contribuem
para criar uma falsa noção de mundo com
projeções cruzadas acerca de assuntos como
politica, por exemplo, a ela incide essa bolha
fantasiosa a respeito do amar e do relacionar. O
sujeito que não distingue um verdadeiro amor
está centrado e reverenciando suas próprias
projeções, reafirmando um amor reflexivo,
circular e retroalimentado, do ponto de vista do
imaginário, nos ideais do amor romântico.
Por isso criticamos o amor romântico, e esta é a
principal distinção entre o amor humano e o amor
romântico: o romance, pela sua própria natureza,
está fadado a degenerar para o egoísmo, pois ele
não é um amor dirigido a outro ser humano. A
paixão do romance é sempre dirigida às nossas
Personalidade expectativas, às nossas fantasias. Na verdade, não
é o amor que se sente por uma pessoa, mas o que
extrovertida e introvertida sentimos por nós mesmo (Johnson, 1987, p.258)
O amor é uma das grandes forcas psicológicas
que tem o poder de transformação sobre
Fundador da Psicologia Analítica., o psiquiatra e o ego e situá-lo em uma existência e em
psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) formou novas perspectivas de ver o mundo e os
os conceitos de personalidade extrovertida, arquétipo relacionamentos. O grande desafio dos dias
e inconsciente coletivo, o complexo a si cronicidade. de hoje é aliar essa forca arquetípica aos
A classificação tipológica de Myers Briggs (MBTI), um novos modelos de subjetivação e de relações.
instrumento popular psicométrico, foi desenvolvida a partir As relações amorosas quando conseguem
de suas teorias. Seu trabalho continua influenciando a estabelecer comunicações efetivas, e não ˜tabus˜
Psiquiatria, Psicologia, Ciência da Religião, Literatura, e proibições, quebram barreiras significativas a
entre outras áreas. ponto de delimitar fronteiras confortáveis para
todos que estão ali inseridos. O fortalecimento
da presença, dos afetos, da carícia e de tantos
outros pontos pode encontrar concordância com
o universo virtual, contanto que seu impacto seja
avaliado e considerado empaticamente e com
o compromisso de uma comunicação clara e
respeitosa com vistas à satisfação e expressão das
necessidades emocionais de casa um.
Lembremos que o ciberespaço também
é um espaço e que os relacionamentos,
independentemente do contexto em que
configuram, precisam ser retroalimentados com
o constante compromisso criativo dos gestos
espontâneos do amor. •
Referências:
JOHNSON, Robert A. We: a Chave da Psicologia do Amor Romântico. São Paulo: Editora Mercuryo, 1987
JUNG, Carl Gustav. Obras completas. Vol X/lll. Estudos sobre Psicologia Analítica. Petrópolis: Editora Vozes. [1916]1981
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34. 1999
MATURANA, Humberto: YANEZ, Ximena. Habitar Humano. Em seus Ensaios de Biologia Cultural. São Paulo: Palas Athenas,2009.
PERROT, Etienne. O Caminho da Transformação Segundo C. G. Jung e a Alquimia. São Paulo: Editora Paulus, 1998.
SANFORD. John A. Os Parceiros Invisíveis. São Paulo: Paulus. 1987.
CAMUS, Albert. O Mito de Sísifo. Rio de Janeiro: Editora Record, 2018.
Março 2019 - Ano 12 PSIǪUE