Page 45 - Revista PSIQUE Ciência e Vida
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Acompanhamos de perto a negligencia dos
usos das redes sociais em libertar a consciência
individual da psique coletiva, seja no âmbito
clinico como também no cotidiano mais
comum. Mesmo muito antes da expansão
dos domínios tecnológicos essa foi uma das
maiores preocupações da psiquiatra Carl
Gustav Jung. Trata-se da necessidade, para
o desenvolvimento da personalidade, da
diferenciação da psique coletiva, dos modismos
e outras tantas tentativas de padronização
e obstrução das condições individuais de
construção da individualidade. É muito comum
observarmos, com pesar ou constrangimento,
a quantidade de pessoas que constantemente
acaba se identificando com seus perfis nas
redes sociais. A esse segmento e realidade
bidimensional Jung chamou de persona, pois...
...”Como seu nome revela, ela é uma simples Mestre da malícia
máscara de psique coletiva, máscara que aparente
uma individualidade, procurando convencer aos
outros e a si mesma que é uma individualidade, Albert Camus considera Sísifo o “proletário dos deuses”
quando na realidade não passa de um papel, no pela razão de estar imerso em um trabalho sem sentido,
qual a psique coletiva” (Jung, O. C. vol. VII,*245) metáfora do homem moderno de consciência entorpecida
Assim, ao analisarmos o conceito de persona
e sua amplificação com o tema em questão, pelo poder e alienação de si. No emaranhamento de posts,
encontramo-nos com aquela que talvez seja uma curtidas e compartilhamentos, o homem moderno rola a
das profecias mais irônicas do grande escritor timeline compulsivamente em busca de um sentido para sua
Machado de Assis, quando em seu conto Fulano vida que não pode ser confundido com o seu “perfil” nas
nos apresenta a história de um indivíduo sem redes sociais e que exige um sentido de consciência ainda
notoriedade, que à custa de sua autopromoção
acaba por se tornar um sujeito de destaque, mais profundo para se libertar da ilusão e da desesperança.
porem logo cai novamente no esquecimento.
Não sabemos se os progressos científicos
aproximam ou criam ainda mais barreiras entre
as pessoas, expandindo de forma compulsória
um modelo de vida baseado na padronização
de comportamentos e uniformidade de ideias
e estilos de vida. Fato é que esses progressos
existem e precisamos organizar essas
experiências de alguma forma que consigamos
nos situar entre elas e que a experiência humana
do existir não seja reduzida a apenas 140
caracteres. Porém, a advertência de Ettiene Perrot
não deve ser negligenciada:
Facebook e sua
forma amistosa
de amenizar o
ar robotizado do
terreno digital, onde
uma das poucas
saídas para o
modelo binário de
curti e compartilhar
e postar
PSIǪUE Março 2019 - Ano 12