Page 73 - ASAS PARA O BRASIL
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Alguns dias antes da compra definitiva pela American Express, os
                  quatro membros da nossa direção foram convidados no famoso restaurante
                  “Tour  d’Argent”,  o  estado-maior  da  American  Express.  Eles  nos
                  interrogaram para saber o que achávamos da compra e da reputação da
                  American Express. Após um giro de mesa, respondi que, até onde sabia, a

                  sua sociedade era especializada em venda de cartões de crédito, e não em
                  agências de viagem e que era suspeita de ter trabalhado com a máfia e com
                  a CIA.

                  Todas as nossas agências foram dilapidadas em poucos anos sem o menor
                  escrúpulo. Tudo era decidido por financeiros de Londres e Nova York; eu
                  nunca entendi a sua estratégia financeira e comercial: comprar para em

                  seguida demolir e aniquilar.

                  De uma centena de pessoas que tinham participado do desenvolvimento da
                  agência Daro Viagens, quase todas foram despedidas progressivamente e
                  metodicamente,  com  poucas  indenizações,  o  que  era  frequente  para  os
                  americanos  que  não  respeitavam  as  convenções  coletivas  da  nossa
                  profissão. O único que aproveitou bastante da venda foi nosso presidente.

                  Quando  fomos  comprados  pela  American  Express,  eu  soube
                  imediatamente que a nova era não nos seria favorável. O que aconteceu
                  depois me deu razão.

                  Em 1987, momento da minha integração na American Express, na volta de
                  uma viagem ao Senegal, fui hospitalizado durante dois meses no hospital
                  da “Pitié Salpétrière”, em Paris, no serviço de parasitologia do professor
                  Gentilini, por uma virose que nunca foi identificada. Durante dois dias, me

                  colocaram  em  quarentena  debaixo  de  uma  tenda  de  plástico  escura.  À
                  noite, eu tinha febres muito altas que desapareceram aos poucos.

                   O vírus nunca reapareceu, mas eu nunca li tanto quanto durante a minha
                  estadia neste lugar sinistro, nem recebi tantas injeções dolorosas e diárias
                  de penicilina.


                  Por voltas das cinco horas, uma enfermeira gorda das Antilhas, cujo andar
                  pesado ressoava no silêncio dos corredores encerados, me executava com
                  uma  enorme  seringa  e  um  sorriso  zombeteiro.  A  espera  do  sacrifício
                  doloroso era o mais insuportável.

                  No final da minha estadia, eu mesmo levava meu sangue para análises, de
                  manhã, ao laboratório do hospital que ficava ali perto.  Falando nisso, eu

                  perdi uma boa amiga que era auxiliar de laboratório no Instituto Pasteur,
                  ela contraiu uma infecção viral e teve uma morte fulminante.
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