Page 93 - ASAS PARA O BRASIL
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Contra todo prognóstico, ele declarou que tinha visto o Georges destruir
meticulosamente o muro com o seu 4x4. O juiz me pediu uma estimativa
do valor do muro e dos danos morais. Respondi que uns US$ 2000. O
Georges, furioso, pulou da sua cadeira e começou a vociferar xingamentos
em francês. O juiz bateu na mesa para que se acalmasse e começou a ditar
o julgamento ao escrivão.
Eu o interrompi declarando que não queria o dinheiro desse sujeito,
considerando que isso não mudaria a educação e as ações dessa criatura
prejudicial.
O juiz, o promotor e o escrivão ficaram boquiabertos.
A sentença notificou que o Georges não devia se aproximar mais da nossa
família, sob a pena de trabalhos comunitários. Ele ficou pálido de raiva e
nunca mais falou conosco nem tentou fazer algo contra nós. Ele morreu em
2013 após uma crise de gota. Triste desfecho. O julgamento de indivisão
durou quinze anos ao todo com diferentes advogados e erros de
interpretação topográfica do notário e da justiça local.
Em 2003, após oito anos de vida juntos, eu decidia me casar com a Eliane,
ela nunca tinha me pedido em casamento.
A cerimônia ocorreu no Tribunal de Justiça de Cascavel numa sala exígua,
suja e abafada. Estávamos acompanhados por dois advogados que seriam
as testemunhas. Após uma longa espera, como sempre, um juiz enorme
com um aspecto patibular celebrou o nosso casamento sem uma só palavra
desejando as boas-vindas ou um sorriso. Não conseguimos esquecer essa
cena lúgubre. As autoridades de Brasília nos enviaram nossa bela certidão
de casamento com fitas coloridas.
Após esse casamento fúnebre, minha esposa fez o pedido de nacionalidade
francesa, que obteve após os cinco anos regulamentares.
CAPÍTULO XIV
Das asas às palmeiras
Entretanto, tínhamos nos tornados agricultores à sombra das
palmeiras.
Meu querido professor de agronomia me entregou um diploma após três
dias de aulas intensivas.
Foi o único diploma da minha vida.