Page 90 - ASAS PARA O BRASIL
P. 90
Eu estava confrontado às vicissitudes da minha nova vida; outro clima,
uma administração diferente das minhas despesas, sem proteção médica e
sem falar corretamente a língua.
O choque cultural em todos os sentidos da palavra que não é nem
aculturação, nem angelizemos, nem alienante, nem ingênuo, mas somente
viável se o respeito existe entre duas culturas que se encontram.
Devo dizer que meus últimos anos de homem casado tinham sido um vazio
afetivo.
Eu não tive muitas hesitações e decidi passar a minha aposentadoria neste
lote de terra ingrato e árido, em busca de uma vida mais valorizada, mais
rica em emoções e talvez mais tenra.
Eu tinha obtido a minha carteira de residente permanente no Brasil.
A minha filha Véronique se encarregou de esvaziar o meu apartamento em
Paris, eu avisei a receita federal da minha mudança e me despedi dos meus
últimos amigos: uma nova vida começou.
Um salto de paraquedas num mundo desconhecido...
CAPÍTULO XIII
Retorno definitivo ao Brasil em janeiro de 1998, eu me torno um
aposentado francês expatriado.
Eu voltava à minha propriedade chamada “Chácara Tarauaka”, a 70 km de
Fortaleza. Tarauaka em língua indígena do Acre significa “lugar onde tem
água”. Isso foi confirmado por um índio idoso, com a pele vincada pelo sol
e que não sabia qual era a sua idade. Esse sujeito honroso, o único nos
arredores a preservar e prosseguir com a tradição oral.
Ele nos contou que tinha conhecido há muito tempo uma mulher vinda de
longe e que tinha se tornado proprietária destas terras que se estendiam ao
infinito.
A construção principal era na verdade uma ruina, uma antiga fazenda cujos
ocupantes criavam coelhos e fabricavam antídotos contra o veneno de
cobras; no fim de semana, o lugar virava um dancing.
A Eliane e a Érica, completamente isoladas, tinham cuidado corajosamente
da casa durante a minha estadia de dois meses em Paris.