Page 86 - ASAS PARA O BRASIL
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Quando eu o conheci pela primeira vez, ele estava à beira do suicídio
                  e com a saúde debilitada. Curado, o Sérgio, sem domicílio fixo, me fazia
                  companhia;  ele  me  ajudou  com  a  papelada  administrativa  e  em  muitas
                  outras circunstâncias.


                  Num primeiro momento, eu tinha organizado um pouco a minha vida entre
                  o Brasil e o resto do tempo em Paris.

                  Eu  tinha  feito  o  pedido  de  visto  permanente  no  Consulado  brasileiro
                  situado na Praça Iena em Paris.


                  Eu precisava de um carro. Como muitos europeus que desembarcam aqui,
                  a minha primeira aquisição foi um buggy.

                  Um sonho para tomar sol e brisa. Mas esses
                  veículos  tinham  outra  característica:
                  passavam muito mais tempo no mecânico

                  do que na estrada. Enfim, para quem não
                  precisa  dirigir  muito,  é  o  ideal.  Meu
                  vendedor, de Fortaleza que tinha acolhido
                  em  Paris  foi  muito  “fair-play”  e  me
                  devolveu  o  dinheiro  que  paguei  por  esse
                  “Magnata” branco bonito, mas muito estático.


                  Meu veículo seguinte, um “Lumar” era quase todo de plástico, o que é muito
                  recomendado devido à salinidade dos borrifos do litoral.

                  Para  a  entrega  do  veículo  “Lumar”,  o
                  pequeno mestiço José, irmão da Madame
                  Selma, uma cafetina que alugava carros e
                  outros      serviços,     como       conseguir
                  acompanhantes         noturnas      para     os

                  estrangeiros de passagem, me levou até a
                  fábrica longe de Fortaleza para receber o
                  veículo.

                  Eu não sei se ele queria me impressionar, mas durante o trajeto, ele abriu
                  o porta-luvas para exibir um grande revólver com a coronha branca e o
                  colocou do seu lado, sem dizer nada.


                  Para bom entendedor, meia palavra basta.

                  Meu novo buggy, evidentemente, também tinha problemas; descobrimos
                  um dia que o seu motor, que era para ser à gasolina, na verdade funcionava
                  à álcool.
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