Page 83 - ASAS PARA O BRASIL
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Surgiu um velhote que parecia ser uma boa pessoa e que me disse
num tom veemente que aquele era seu banco predileto no inverno, quando
nesse momento, alguns raios de sol tiveram a impudência de querer
aparecer.
Eu acho que ele tinha chegado a tal ponto de solidão que ele precisava
conversar ao mesmo tempo em que tentava marcar o seu território. Esse
pequeno banco tinha provavelmente se tornado a sua última estação; um
triste final para este velho solitário.
Um livro dos anos 1920 emprestado pelo Bernard chamado “Passy-Auteuil
ou o velhinho do parquinho” (“Passy-Auteuil ou le vieux monsieur du square” de Francis de Monandre.
Editora Delpech 1929) tinha acabado de me convencer.
Naquele dia, eu entendi que eu tinha que repensar a minha aposentadoria
e meu futuro em outro lugar. Poucas coisas me seguravam em Paris onde
trancafiado no meu apartamento, eu suportava cada vez menos o fato de
estar inativo.
Estas condições do tempo “suspenso e reencontrado”, como diria Proust,
estavam na minha frente.
Eu me divorciava pela terceira vez por motivos surpreendentemente
parecidos com as da segunda.
A Isabelle também queria um filho o que é natural e comum.
Mas eu não me via tendo um filho com a minha idade e, além disso, estava
desempregado.
De todas as formas, eu não suporto crianças que gritam. Isso talvez venha
do fato da minha infância não ter sido muito feliz. Hoje em dia, as crianças
reinam, elas têm todos os direitos e a lei está a favor delas.
Eu acho isso lamentável para o futuro delas; é o modelo americano que tem
a primazia.
Nós tínhamos uma diferença de idade de trinta anos. Depois de convencê-
la de que ela não tinha futuro comigo, ela encontrou um emprego num
laboratório farmacêutico após uma longa formação.
Eu a instalei num apartamento situado num belo edifício.
A separação foi longa e penosa, a vida de casal já não existia mais há muito
tempo, ela já vivia outra vida; o amor tinha se consumido.