Page 79 - ASAS PARA O BRASIL
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Para  ir  a  certas  reuniões  de  organização,  eu  tinha  que  estar
                  empetecado com vários crachás oficiais de cores diferentes. Eu nunca tinha
                  visto tantos chefes de Estado, tantos recursos de segurança desdobrados,
                  helicópteros atravessando o céu sem interrupção. Durante os numerosos
                  coquetéis, muitos participantes que eu não conhecia apertavam a minha

                  mão, entre os quais o nosso presidente da época. E pude notar, como eu
                  estava  em  todos  os  lados,  os  efeitos  da  famosa  bebida  brasileira,  a
                  caipirinha. Alguns participantes se mostravam vergonhosamente bêbados
                  em vários coquetéis a cada dia do congresso.

                  Tivemos que acompanhar de volta vários embriagados vacilantes até seus
                  quartos. Alguns eram incapazes de se lembrar do número de quarto e do

                  nome do hotel.

                  Que hecatombe!

                  Nessas circunstâncias, suas atitudes lamentáveis e indefectível arrogância,
                  tão particular aos franceses, me deixavam envergonhado. Que papelão para
                  o nosso país nestas circunstâncias oficiais. Quanto desperdício!


                  Muitas  palavras  de  nosso  belo  idioma  parecem  ter  praticamente
                  desaparecido:  princípios,  elegância,  distinção,  educação,  polidez,
                  refinamento, bons costumes e outras.


                  O espetáculo mais extraordinário foi o cortejo de participantes ecologistas,
                  defensores do planeta que deambulavam pelas ruas de Copacabana com
                  suas roupas folclóricas e cambiantes.

                  Os  hippies  americanos,  com  suas  fitas  vermelhas  amarradas  na  testa,
                  andavam fraternalmente misturados, cantando a plenos pulmões com os
                  Índios, que carregavam papagaios coloridos em cima de seus ombros. O
                  surrealismo ecológico kafkiano atingindo o seu apogeu!


                  Todo esse povo compartilhava neste primeiro e verdadeiro congresso sobre
                  a ecologia, um entusiasmo quase juvenil, ainda cheio de esperança e de
                  inocência, do tipo esquizofrênico paranoico! Isso foi há 23 anos.

                  Os  políticos  ainda  não  tinham  tomado  consciência  da  dimensão  dos
                  cataclismos que iriam ocorrer no planeta, mas tinham sido avisados.


                  A Conferência de Paris 2015 / COP 21 sobre as negociações climáticas é um
                  acordo histórico e unânime adotado por 195 países, ele é constrangedor e
                  eu espero que ele seja seguido escrupulosamente.
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