Page 85 - ASAS PARA O BRASIL
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O  marido  da  franco-portuguesa,  um  certo  Georges,  uma  criatura
                  lúbrica, se tornaria rapidamente um elemento perturbador e insuportável.
                  Ele era dono de um hotel com um nome injustificado: “La France” situado
                  na  praia  de  Caponga.  Seu  hotel  era  a  caverna  do  diabo,  ele  estava
                  apodrecendo nossas vidas.


                  Meu  velho  amigo  André  era  um  consumidor  de  álcool  temerário,
                  concupiscente e um garanhão impenitente.

                  Ele não era mais o mesmo homem que havia conhecido em Paris há mais
                  de trinta anos, isso me preocupava muito para o prosseguimento do nosso
                  projeto.


                  A vizinhança com o Georges, estelionatário e proxeneta, produtor de filmes
                  pornô,  originário  de  Marselha,  tinha  se  tornado  rapidamente  difícil  de
                  suportar.


                  Ele se vangloriava de ter trabalhado no Ministério da Cultura em Paris, e
                  que o ministro da época, ainda conhecido nos dias de hoje, lhe deu um
                  cheque  de um valor importante para  que ele deixasse  a França  após os
                  escândalos da projeção desses filmes.

                  O motivo: ele confundiu os orçamentos do Ministério da Cultura com uma
                  “cultura”  de  um  gênero  diferente:  a  dos  filmes  pornôs!  O  André  ainda

                  trabalhava numa empresa de corridas de cavalos em Paris e aguardava a
                  aposentadoria. Nós decidimos pedir a divisão do terreno em três partes.

                   O André me indicou um irmão maçônico, advogado em Fortaleza e me deu
                  uma procuração para cuidar do processo.

                   Em março de 1996, eu mandei traduzir as atas do processo em Paris por
                  um simpático estudante de direito português chamado Rodolphe.


                   A dialética judiciária na França já é um jargão incompreensível; a do Brasil
                  é ainda mais.

                  Quando eu lhes digo que eu não escolhi a simplicidade e o conhecido!


                  Naquele momento, eu ainda falava um português cruzado com espanhol
                  ruim: o “portunhol”, mas eu conseguia ser entendido.

                  Em  Fortaleza,  conheci  o  Sérgio,  um  legionário  desertor  da  Guiana
                  Francesa, que tentava sobreviver no dia a dia. Eu o tinha tomado sob a
                  minha asa: era um compatriota da região de Lorena que tinha suportado

                  muitas guerras e campanhas diversas.
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