Page 91 - ASAS PARA O BRASIL
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Um dia, a Eliane tinha sido picada por uma centopeia de 20 cm. Uma
                  mordida muito dolorosa da qual ela ainda tem a marca no ombro. Ela teve
                  que ir à noite ao hospital de “Cascavel”, distante a 8 km, para receber uma
                  injeção de soro antivenenoso.


                  Durante  a  minha  ausência,  muitos  incidentes  desagradáveis  se
                  produziram. A Eliane foi perseguida obstinadamente pelo Georges e um de
                  seus amigos, o irmão repugnante de Stevan Markovic, um sujeito envolvido
                  em  um  escândalo  político-sexual  em  1969.  Esse  personagem  detestável,
                  chamado  Antoine  assediava  a  Eliane  fazendo  propostas  indecentes  e
                  simulando sons de beijos melados. Ele ofereceu a ela uma vida de mulher
                  “sustentada” num apartamento em Fortaleza. Tentativa abjeta e em vão.


                  O  Georges,  que  era  um  chicaneiro  nato,  principalmente  nos  tribunais
                  trabalhistas, decidiu fazer de tudo para que eu deixasse o Brasil. O motivo
                  principal era que o André, coproprietário e eu havíamos pedido a divisão
                  das terras.

                  Senti que ele estava tentando me colocar numa armadilha e eu previ a sua

                  reação.

                  De fato, algum tempo depois, em Cascavel, ele me provocou na frente de
                  testemunhas e amigos com xingamentos. Sentindo a arapuca, eu não reagi:
                  ele  certamente  tinha  relações  também  na  polícia  local.  Na  região,  a
                  reputação  dos  franceses  era  o  reflexo  da  imagem  deste  triste  indivíduo.
                  Muitos  franceses  obscuros  que  fugiram  da  França  sentem  prazer  em  se

                  vingar e explorar os compatriotas recém-chegados. É a lama do nosso país.

                  Uma noite, por volta das 23h, a ofensiva do energúmeno continuou: fomos
                  acordados  por  gritos  e  xingamentos.  O  Georges  e  seu  novo  comparsa
                  André,  que  tinha  virado  a  casaca,  completamente  bêbados  após  uma
                  bebedeira amigável queriam brigar. Os bêbados gostam de ficar juntos e às
                  vezes até mesmo fazer pactos.


                  O  Georges  fez  um  boletim  de  ocorrência  contra  mim  por  ameaça  de
                  morte; processo que foi abandonado por falta de provas.

                  O  André,  sem  coragem,  não  testemunhou  e  nunca  se  apresentou  às
                  convocações do tribunal.


                  Meu ex-amigo  André, de  mais de  trinta  anos  se  associou de  repente  ao
                  Georges com a esperança quem sabe, de ganhar mais terras?

                  Durante pelo menos dois anos, não nos falamos mais.
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