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redor. Então esse ‘abraço da morte’ chegou”, contou Caio Blat. “Não teve um dia de
filmagem em que não vimos fumaça de queimada. Até o set queimou, a equipe toda ajudou
a apagar o fogo. E isso acontece sempre: aconteceu quando filmamos, aconteceu no ano
passado, vai acontecer esse ano de novo”, afirmou Felipe Camargo. “A ecologia não pode
mais ser vista como uma coisa bonitinha, ‘vamos preservar a natureza’. Não: vamos
preservar a nossa vida.”
Ao refletir sobre a experiência de filmar Xingu no Xingu, Cao Hamburger declarou:
“Considero que essa cultura e essa filosofia de vida deles não estão paradas no tempo, elas
estão em desenvolvimento, como a nossa. O que está me interessando muito é o que nós
podemos aprender com essa cultura. O Brasil tem um tesouro que faz questão de esconder
e desprezar, e está perdendo a oportunidade de absorver e aprender com eles. A cultura
deles é muito rica, muito sofisticada, e o Brasil tem muito a ganhar”.
O cineasta Fernando Meirelles, produtor de Xingu, foi contundente em suas afirmações ao
longo da série de entrevistas sobre o filme: “O que eu acho que vale ressaltar do filme é
como ele é atual. Vindo para cá, eu li no jornal que o Megaron Txucarramãe, que era
coordenador da Funai no norte do Mato Grosso, tinha sido demitido porque tem uma
posição contrária à Belo Monte. É a história do filme, da Transamazônica, se repetindo. O
filme não poderia ser mais atual, nesse momento em que Belo Monte e o Código Florestal
são assuntos muito fortes”. E, mais tarde: “Eu, pessoalmente, acho que Belo Monte é um
dos maiores erros atuais. A gente está construindo usinas basicamente para poder aumentar
a produção de alumínio. Vai comprometer toda aquela área pra produzir mais alumínio. É
esse o progresso que queremos?”.
Em outra manifestação, Fernando Meirelles foi ainda mais direto: “A Transamazônica do
filme é a
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Belo Monte de hoje. Aquele deputado de terninho é a Kátia Abreu . Isso está muito claro”.
No filme, há ainda um militar que é a cara desse governo no trato de Belo Monte e das
questões ambientais. Só não gritei — “Nossa, é a Dilma Rousseff!” — porque faço uma
campanha persistente pelo silêncio no cinema. Quando Orlando Villas Bôas tenta explicar
que a Transamazônica vai passar por cima dos Kren Akarore, uma etnia isolada, o militar
declara: “Limpe o caminho. Mas tem que ser rápido”.
Há de se eliminar aquilo que “atravanca” o progresso ontem, o desenvolvimento hoje —
tirar da frente, custe o que custar. “Resolver.” E rápido. Como a História mostrou, dos 600
Kren Akarore restaram 79 depois da abertura da Transamazônica. O efeito da estrada,
apenas sobre uma única etnia indígena, foi um genocídio de mais de 500 seres humanos. E
a Transamazônica até hoje é uma picada intrafegável boa parte do ano, apelidada por onde