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passa de “Transamargura”. As obras de Belo Monte começaram — sem o cumprimento das
        condicionantes ambientais —, e o estrago já é visível.

          Entre os desafios que um futuro biógrafo enfrentará ao contar a vida e a obra de Dilma
        Rousseff está o seguinte paradoxo: como uma mulher que entrou na clandestinidade, pegou
        em armas para lutar contra o autoritarismo e pagou pela sua coerência o preço altíssimo de

        ter sido torturada, vira uma ministra, primeiro, uma presidente, depois, que, em se tratando
        de políticas para a Amazônia e o meio ambiente, incorpora — e o pior, implanta — a mesma

        visão da ditadura militar que combateu. De novo, estamos de volta ao Brasil Grande que
        pensa pequeno — mas em plena democracia e numa imprensa sem censura oficial. Acho o
        paradoxo fascinante do ponto de vista humano, mas um desastre para o país.

          Talvez, hoje, a presidente Dilma Rousseff passasse um pito na guerrilheira Dilma Rousseff:
        “Não há espaço para a fantasia”. E imediatamente esquecesse que foi essa “fantasia” que

        tornou possível não só a própria democracia, mas a ascensão de um operário à presidência
                                                                                                            28
        do Brasil. E também a tudo o que veio depois — inclusive ela. Foi essa mesma frase                     , em

        minha opinião a mais infeliz de sua trajetória como presidente, talvez de sua vida, que Dilma
        Rousseff  declarou  aos  ambientalistas  que  combatem  Belo  Monte,  afirmando  que  não
        mudará sua política de “desenvolvimento” para a Amazônia. O que nos faz concluir que,

        diante dos Irmãos Villas Bôas, os indigenistas de ontem, Dilma Rousseff só poderia dizer o
        mesmo que diz para os indigenistas de hoje: “Não há espaço para a fantasia”.

          Cara presidente, se não existisse “fantasia” não existiria humanidade — não existiria nem
        mesmo  o  conceito  de  nação.  Não  existiria  nem  mesmo  o  Brasil.  Como  disse  Fernando
        Meirelles: “Sonhe um pouco, presidenta. Ou ao menos escute o sonho dos que conseguem

        sonhar”.

                                                                                                   16 de abril de 2012



        27 Kátia Abreu (PSD-TO) é senadora da bancada ruralista.
        28 A frase foi dita por Dilma Rousseff em 4 de abril de 2012, durante um encontro do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, realizado no Palácio
           doPlanalto. Ela se referia à Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, que se realizaria em junho do mesmo ano.

        É possível obrigar um







        pai a ser pai?
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