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construir. Esse mundo que nos une em rede, simultaneamente, que faz o longe ficar perto.
        Nesse contexto, a tragédia de Aaron Swartz não é apenas um episódio, mas o marco de um

        momento histórico específico. Nele, diferentes forças econômicas, políticas e culturais se
        digladiam para impor ou derrubar barreiras no acesso ao conhecimento na internet. Este é,
        junto com o tema socioambiental, o maior debate atual. E é ele que está moldando nosso

        futuro.
          Como disse Tatiana de Mello Dias, em seu blog no Estadão, “poucas pessoas traduziram

        tão bem a época em que nós estamos vivemos quanto Aaron Swartz”. Isso faz com que
        possamos pensar que sua morte é também, simbolicamente, um fracasso da geração a qual
        pertenço. Essa geração que testemunhou o nascimento da internet, que está decidindo —

        na maioria dos casos por omissão — como o conhecimento vai circular dentro dela e que,
        por ter crescido num mundo sem ela, nem chega a compreender totalmente o que está em

        jogo. E por isso deixa a geração de Aaron tão só.
          Obviamente  sou  capaz  de  perceber  os  poderosos  interesses  envolvidos  nas  decisões
        relacionadas à internet, boa parte deles conduzidos também por gente da geração a qual

        pertenço. Mas me refiro aqui à passividade de muitos, no exercício da cidadania, diante de
        um dos debates cruciais do nosso tempo. Aqui vale uma observação: quando se diz que a

        juventude  atual  é  alienada,  que  não  trava  lutas  políticas  como  seus  pais  e  avós,  não  é
        também  deixar  de  enxergar  o  que  se  passa  na  internet,  a  “rua/praça”  de  uma  série  de
        movimentos políticos levados adiante pelos mais jovens? Já não é um tanto estúpido pensar

        em  mundo  real/mundo  virtual  como  oposições?  Criticar  o  “ativismo  de  sofá”  dos  mais
        jovens, menosprezando as ações na rede, não seria má fé ou ignorância? Talvez, como pais

        e  adultos  desse  tempo,  parte  de  nós  tenha  apenas  medo  e  vergonha  daquilo  que  não
        compreende. E, em vez de tentar compreender, num comportamento humano tão triste
        quanto  clássico,  desqualifica  e  rechaça.  Afinal,  literalmente,  a  internet  tirou  o  chão  que

        acreditávamos existir debaixo dos nossos trêmulos pés. Ou, pelo menos, nos provou que não
        havia nenhum.
          Aaron não era apenas um gênio da internet, ainda que essa palavra “gênio” já tenha sido

        tão abusada. Talvez o maior ato político de Aaron tenha sido o que fez com seu talento. Ele
        o usou para lutar pelo acesso livre ao conhecimento, via internet. Isso, em si, já o tornaria

        perigoso para muitos. Mas há algo que pode ter soado ainda mais imperdoável: Aaron não
        queria ganhar dinheiro com o seu talento. Ele não era aquilo que as crianças são ensinadas
        a admirar: um jovem gênio milionário da internet, como Mark Zuckerberg, o criador do

        Facebook. Aaron Swartz era um jovem gênio que não queria ser milionário. E, convenhamos,
        nada pode ser mais subversivo do que isso.
          Ao saber da morte de Aaron Swartz, lembrei-me de dois versos. Apesar da importância dos

        argumentos e do debate, só a poesia dá conta da tragédia. Um é do eternamente jovem
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