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Esta é uma possibilidade capaz de abater até o mais autoconfiante e otimista entre nós, o
        que  não  equivale  a  dizer  que  todos  lidariam  com  esse  pesadelo  da  mesma  forma.  Se  é

        perigoso encontrar um culpado para uma escolha tão complexa quanto o suicídio, também
        é perigoso quando a depressão é vista como algo apartado da vida vivida — e a patologia é
        colocada a serviço da simplificação. Se as doenças falam do indivíduo, falam também do seu

        mundo e de seu momento histórico.
          Se Aaron Swartz encerrou a própria vida, esta foi a sua decisão. Tornar-se adulto é também

        bancar as suas escolhas — e, neste sentido, estar só. Digo isso para que a nossa dor não
        esvazie de protagonismo o último ato de Aaron, o que equivaleria a desrespeitá-lo. Aaron é
        responsável por sua escolha, por mais que ela possa ser lamentada. E só ele poderia afirmar

        por que a fez.
          Isso não significa, porém, que vários atores do caso judicial que envenenou a vida de Aaron

        nos  últimos  dois  anos,  com  aparentes  excessos,  não  precisem  também  assumir
        responsabilidades e responder por suas respectivas escolhas. Um dos mentores de Aaron,
        Larry  Lessig  (escritor,  professor  de  Direito  da  Universidade  de  Harvard,  cofundador  do

        Creative Commons) afirmou que ele tinha errado, mas considerou a acusação e a possível
        punição uma resposta desproporcional ao ato. Logo após a morte de Aaron, escreveu: “(Ele)

        partiu  hoje,  levado  ao  limite  pelo  que  uma  sociedade  decente  só  poderia  chamar  de
        bullying”.
          Colunistas como Glenn Greenwald, do jornal britânico Guardian, acreditam que o processo

        penal era um ataque do governo dos Estados Unidos contra seu ativismo libertário: “Swartz
        foi  destruído  por  um  sistema  de  ‘justiça’  que  dá  proteção  integral  aos  criminosos  mais

        ilustres — desde que sejam membros dos grupos mais poderosos do país, ou úteis para estes
        —, mas que pune sem piedade e com dureza incomparável quem não tem poder e, acima de
        tudo, aqueles que desafiam o poder”. Em declaração pública, a família afirmou: “A morte de

        Aaron não é apenas uma tragédia pessoal. É produto de um  sistema de justiça criminal
        repleto de intimidações”. A família também responsabilizou o MIT pelo desfecho.

          Em comunicado, o presidente do MIT, L. Rafael Reif, anunciou a abertura de um inquérito
        interno para apurar a responsabilidade da instituição nos acontecimentos que levaram à
        morte de Aaron. Reif escreveu: “Eu e todos do MIT estamos extremamente tristes pela morte

        desse jovem promissor, que tocou a vida de tantos. Me dói pensar que o MIT tenha tido
        algum papel na série de eventos que terminaram em tragédia. (...) Agora é o momento de
        todos os envolvidos refletirem sobre suas ações, e isso inclui todos nós do MIT”.

          É tarde para o MIT, é tarde para nós. Mas, ainda assim, necessário. É importante pensar
        sobre o significado da tragédia de Aaron Swartz. E, para começar, só o fato de ela poder

        significar  algo  para  todos,  sendo  ele  um  jovem  americano  encontrado  morto  num
        apartamento em Nova York, é bastante revelador desse mundo novo que Aaron ajudava a
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