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por criaturas verdes. Ou talvez o primo mande os ETs embora porque encontre alguém do
próprio planeta para ocupar este lugar. O problema será, enquanto isso, sobreviver às
pessoas que escondem seus ETs no armário.
É uma pena que precisemos tanto de julgamentos sobre o que é um comportamento
normal ou não — sempre esquecendo que a “normalidade” muda conforme a cultura e o
tempo histórico. Esquecendo também de olhar para a própria vida, com a honestidade
necessária, para perceber que cada um de nós acredita em coisas muito estranhas e bizarras.
Apenas que são coisas que mais gente também acredita. Esse, aliás, é um exercício bem
interessante, capaz de alargar os limites sempre estreitos de nossa tolerância.
É triste viver num mundo onde, diante de qualquer diferença, mesmo que de opinião, seja
preciso cair matando. Que gente tão insegura e pobre de espírito nos tornamos para
temermos tanto aqueles diferentes de nós? Sempre que vejo alguém desqualificando um
outro por suas ideias e suas crenças, fico pensando: será que essa pessoa tem uma vida tão
sensacional que todas as outras precisam ser esculhambadas? Desconfio que seja
exatamente o contrário. Não custa nada olhar para dentro e apalpar um pouco a matéria dos
nossos dias antes de sair por aí cimentando regras para a vida de todos. Torço muito para
que o primo da minha amiga não encontre gente que se sinta ameaçada pelos seus ETs. Mas
sei que vai encontrar. E temo por ele.
Acho que, em alguma medida, temos todos nós ETs ou bonecas infláveis que nos ajudam
na tarefa complicada que é viver. Especialmente quando essa tarefa fica muito difícil. Seria
tão bom que conseguíssemos amar melhor e, mesmo ao ver os outros agarrados a ETs bem
pequeninos, fôssemos capazes de deixar passar, sem sacarmos nossas armas de
extermínio. Quantas vezes não percebemos gente bem próxima, que, por causa de alguma
tragédia ou mesmo de uma fragilidade maior diante das agruras do mundo, está segura
apenas por um fio muito fino à sua vida. Em vez de escutar, aceitar e acolher, nosso
comportamento habitual é sair logo cortando, com uma tesoura bem grande, o fio que
aquela pessoa teceu com a maior dificuldade. E sem oferecer nada em troca para botar no
lugar.
Estou bem cansada de gente que adora dizer, apoiada em sua metralhadora de certezas:
“Fulano está perdido”. Ou: “Sicrano nunca conseguiu fazer nada decente na vida”. Ou, os
que acham chique falar em inglês: “Beltrano é um loser”. Será que esses arautos do sucesso
estão tão perdidos que pensam que se acharam na vida? Bem, talvez esta crença seja o único
fio que os mantêm acima do abismo.
Lars e a garota real (ou A garota ideal), o filme, é uma fábula. Não por causa de Lars, mas
por nossa causa. Naquela cidade as pessoas são muito melhores do que nós. De repente
percebi, assistindo ao filme, que o mais estranho ali não era Lars e sua boneca, mas todos os
outros. Porque, NESTA vida real, não há nada mais distante do normal, não há nada mais