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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
porque muita gente me pergunta: A população então está em risco?
- A gente só pode responder essa pergunta, com o consumo, se houver um
estudo que mostre quanto de pescado, qual o pescado consumido, e qual
a frequência de consumo. Pra ver se o que tá sendo consumido efeti-
vamente com base nessas concentrações que a gente determina, se
a população está em risco ou não. Então é um estudo muito mais
complexo, do que o estudo puro e simples que a gente tem aqui. A
gente tá vendo um elemento da fórmula. A gente precisa de mais
dois parâmetros no mínimo: frequência de consumo, né, e o biótipo do
cidadão, se ele é criança, se ele é mulher, se ele é homem, seu peso, a massa
e tudo... então tem que ter um estudo populacional, um pouco mais
longe pra gente ver se tem risco à população ou não. Ou seja, entra
como uma decisão da área da saúde humana. (Fala do Professor
Adalto Bianchini, em audiência na ALES, em 2017, grifo nosso).
A fala transcrita acima foi proferida pelo professor Adalto Bianchini du-
rante um evento ocorrido na Universidade Federal do Espírito Santo em 6
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de julho de 2017. As confluências entre a fala de Bianchini e algumas das
práticas de prevenção adotadas pela população local são coincidências
ou concordâncias pragmáticas (ALMEIDA, 2013), mas que se baseiam em
percepções fundamentalmente diferentes sobre o pescado, tanto em nível
ontológico como em nível visceral e emocional. Assim, evitar o consu-
mo, diminuir a frequência e privar as crianças do contato com a fonte dos
contaminantes – medidas adotadas por alguns moradores de Regência
– seriam medidas coerentes com os pressupostos elencados pelo profes-
sor durante a sua fala. Segundo essa palestra, os efeitos do desastre – no
sentido da contaminação dos ecossistemas, incluindo os humanos, que
fazem parte da cadeia trófica – passaram por sua fase crítica e existem
agora enquanto efeitos crônicos, que demandam observação atenta e
12 A palestra intitulada “Impactos da lama de rejeitos da barragem do Fundão, em Mariana
(MG), sobre a zona estuarina do rio Doce e zona costeira adjacente, por meio de monitora-
mento ecotoxicológico e biomarcadores: resultados das três expedições de monitoramento
realizadas no local, visando à avaliação e monitoramento da qualidade e saúde das áreas
costeiras e marinhas” foi proferida pelo professor Adalto Bianchini, do Instituto de Ciências
Biológicas, Universidade Federal do Rio Grande (FURG). O evento ocorreu no auditório do
Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), no dia 6 de julho de
2017, sob organização do Núcleo de Estudos da Qualidade do Ar (Departamento de Enge-
nharia Ambiental da UFES) em parceria com a ONG Juntos SOS ES Ambiental.
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