Page 204 - LIVRO - ENCONTRO DE RIO E MAR_160x230mm
P. 204

Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização

                       porque muita gente me pergunta: A população então está em risco?
                       - A gente só pode responder essa pergunta, com o consumo, se houver um
                       estudo que mostre quanto de pescado, qual o pescado consumido, e qual
                       a frequência de consumo. Pra ver se o que tá sendo consumido efeti-
                       vamente com base nessas concentrações que a gente determina, se
                       a população está em risco ou não. Então é um estudo muito mais
                       complexo, do que o estudo puro e simples que a gente tem aqui. A
                       gente tá vendo um elemento da fórmula. A gente precisa de mais
                       dois parâmetros no mínimo: frequência de consumo, né, e o biótipo do
                       cidadão, se ele é criança, se ele é mulher, se ele é homem, seu peso, a massa
                       e tudo... então tem que ter um estudo populacional, um pouco mais
                       longe pra gente ver se tem risco à população ou não. Ou seja, entra
                       como uma decisão da área da saúde humana. (Fala do Professor
                       Adalto Bianchini, em audiência na ALES, em 2017, grifo nosso).
               A fala transcrita acima foi proferida pelo professor Adalto Bianchini du-
               rante um evento ocorrido na Universidade Federal do Espírito Santo em 6
                              12
               de julho de 2017.  As confluências entre a fala de Bianchini e algumas das
               práticas de prevenção adotadas pela população local são coincidências
               ou concordâncias pragmáticas (ALMEIDA, 2013), mas que se baseiam em
               percepções fundamentalmente diferentes sobre o pescado, tanto em nível
               ontológico como em nível visceral e emocional. Assim, evitar o consu-
               mo, diminuir a frequência e privar as crianças do contato com a fonte dos
               contaminantes – medidas adotadas por alguns moradores de Regência
               – seriam medidas coerentes com os pressupostos elencados pelo profes-
               sor durante a sua fala. Segundo essa palestra, os efeitos do desastre – no
               sentido da contaminação dos ecossistemas, incluindo os humanos, que
               fazem parte da cadeia trófica – passaram por sua fase crítica e existem
               agora enquanto efeitos crônicos, que demandam observação atenta e


               12   A palestra intitulada “Impactos da lama de rejeitos da barragem do Fundão, em Mariana
               (MG), sobre a zona estuarina do rio Doce e zona costeira adjacente, por meio de monitora-
               mento ecotoxicológico e biomarcadores: resultados das três expedições de monitoramento
               realizadas no local, visando à avaliação e monitoramento da qualidade e saúde das áreas
               costeiras e marinhas” foi proferida pelo professor Adalto Bianchini, do Instituto de Ciências
               Biológicas, Universidade Federal do Rio Grande (FURG). O evento ocorreu no auditório do
               Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), no dia 6 de julho de
               2017, sob organização do Núcleo de Estudos da Qualidade do Ar (Departamento de Enge-
               nharia Ambiental da UFES) em parceria com a ONG Juntos SOS ES Ambiental.




                                               202
   199   200   201   202   203   204   205   206   207   208   209