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Capítulo 10
uma onda de lama:
viagem de águas tóxicas de Bento
Rodrigues ao Atlântico brasileiro 1, 2
Eliana Santos Junqueira Creado
Stefan Helmreich
Em 5 de novembro de 2015, na vila de Bento Rodrigues, no município
de Maria, no estado de Minas Gerais, Brasil, uma barragem com rejeitos
de mineração de ferro de propriedade da mineradora Samarco Mineração
S.A. rompeu-se, liberando 62 milhões de metros cúbicos de lama de rejei-
tos rio Doce abaixo, soterrando e matando 19 pessoas e liberando matéria
aquosa tóxica em direção ao Oceano Atlântico, onde ela chegou duas se-
manas depois, contaminando praias e cidades. Esse desastre ambiental –
que alguns comentadores nomeiam como crime ambiental cometido pela
negligente empresa Samarco e seus parceiros de negócios, a brasileira
Vale S.A. e a australiana BHP Billinton Ltda. (CREADO et al., 2017; LO-
3
SEKANN, 2017) — foi o pior derramamento de sua espécie na história do
1 Uma versão mais concisa do artigo foi previamente submetida, em inglês, para o Instituto
de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (RIEB), cujo sítio eletrônico é https://
www.revistas.usp.br/rieb. CREADO, E. S. J.; HELMREICH, S. A wave of mud: the travel of
toxic water, from Bento Rodrigues to the Brazilian Atlantic. Revista do Instituto de Estudos
Brasileiros, Brasil, n. 69, p 33-51, abr. 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-901X.
v0i69p33-51 .
2 Trabalho etnográfico foi conduzido por Creado com outros pesquisadores, a maioria
de dois projetos. O primeiro, coordenado pela Dra. Aline Trigueiro, foi um programa de
extensão financiado pelo Ministério da Educação (Edital PROEXT-2016) intitulado “Áreas
protegidas e grandes projetos de desenvolvimento no horizonte de vivências das comu-
nidades locais”. O segundo, alocado dentro do primeiro, coordenado por Flavia Amboos
Merçon Leonardo, com financiamento angariado pelo Coletivo Rio de Gente e coordenado
pelo Greenpeace, chamou-se “Depois da Lama: impactos na foz do rio Doce”. Ambos foram
desenvolvidos dentro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Populações Pesqueiras e Desen-
volvimento (GEPPEDES; https://www.geppedes.com).
3 Losekann (2017, p. 116) explica que: “[T]he federal government issued a decree on No-
vember 13, 2015 (decreto 8276, November 13, 2015), which considered the event a ‘natural
disaster’, which was considered by affected people as outrageous, considering that the causes
of the rupture were not natural, but rather the precarious conditions of security of the dam”.
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