Page 263 - LIVRO - ENCONTRO DE RIO E MAR_160x230mm
P. 263

Capítulo 10

                    uma onda de lama:
                    viagem de águas tóxicas de Bento

                    Rodrigues ao Atlântico brasileiro                  1, 2





                    Eliana Santos Junqueira Creado
                    Stefan Helmreich



                       Em 5 de novembro de 2015, na vila de Bento Rodrigues, no município
                    de Maria, no estado de Minas Gerais, Brasil, uma barragem com rejeitos
                    de mineração de ferro de propriedade da mineradora Samarco Mineração
                    S.A. rompeu-se, liberando 62 milhões de metros cúbicos de lama de rejei-
                    tos rio Doce abaixo, soterrando e matando 19 pessoas e liberando matéria
                    aquosa tóxica em direção ao Oceano Atlântico, onde ela chegou duas se-
                    manas depois, contaminando praias e cidades. Esse desastre ambiental –
                    que alguns comentadores nomeiam como crime ambiental cometido pela
                    negligente empresa Samarco e seus parceiros de negócios, a brasileira
                    Vale S.A. e a australiana BHP Billinton Ltda. (CREADO et al., 2017; LO-
                                  3
                    SEKANN, 2017)  — foi o pior derramamento de sua espécie na história do
                    1   Uma versão mais concisa do artigo foi previamente submetida, em inglês, para o Instituto
                    de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (RIEB), cujo sítio eletrônico é https://
                    www.revistas.usp.br/rieb. CREADO, E. S. J.; HELMREICH, S. A wave of mud: the travel of
                    toxic water, from Bento Rodrigues to the Brazilian Atlantic. Revista do Instituto de Estudos
                    Brasileiros, Brasil, n. 69, p 33-51, abr. 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.2316-901X.
                    v0i69p33-51 .
                    2   Trabalho etnográfico foi conduzido por Creado com outros pesquisadores, a maioria
                    de dois projetos. O primeiro, coordenado pela Dra. Aline Trigueiro, foi um programa de
                    extensão financiado pelo Ministério da Educação (Edital PROEXT-2016) intitulado “Áreas
                    protegidas e grandes projetos de desenvolvimento no horizonte de vivências das comu-
                    nidades locais”. O segundo, alocado dentro do primeiro, coordenado por Flavia Amboos
                    Merçon Leonardo, com financiamento angariado pelo Coletivo Rio de Gente e coordenado
                    pelo Greenpeace, chamou-se “Depois da Lama: impactos na foz do rio Doce”. Ambos foram
                    desenvolvidos dentro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Populações Pesqueiras e Desen-
                    volvimento (GEPPEDES; https://www.geppedes.com).
                    3  Losekann (2017, p. 116) explica que: “[T]he federal government issued a decree on No-
                    vember 13, 2015 (decreto 8276, November 13, 2015), which considered the event a ‘natural
                    disaster’, which was considered by affected people as outrageous, considering that the causes
                    of the rupture were not natural, but rather the precarious conditions of security of the dam”.




                                                   261
   258   259   260   261   262   263   264   265   266   267   268