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— Sim, sim, o senhor veio de longe — dizia ele —, mas não permitimos visitas durante o
primeiro mês. Regulamento estatal. Sem exceções.
A voz que respondeu era suave e refinada, cheia de agonia.
— Meu filho está bem?
— Seu filho é um viciado.
— Ele está sendo bem tratado?
— Bem o bastante — respondeu o diretor. — Isto aqui não é um hotel.
Fez-se um silêncio atormentado.
— O senhor sabe que o Departamento de Estado dos Estados Unidos vai requisitar uma
extradição?
— Sim, sim, eles sempre fazem isso. Ela será concedida, embora talvez a papelada leve
algumas semanas... ou até um mês... tudo depende.
— Depende de quê?
— Bem — disse o diretor —, nós aqui estamos com falta de pessoal. — Ele fez uma pausa. — É
claro que às vezes a pessoa interessada, como é o caso do senhor, faz doações aos funcionários da
prisão para ajudar a acelerar um pouco as coisas.
O visitante não respondeu.
— Sr. Solomon — prosseguiu o diretor, abaixando a voz —, para um homem como o senhor,
para quem o dinheiro não é nada, sempre existem alternativas. Eu conheço pessoas no governo. Se o
senhor e eu trabalharmos juntos, podemos conseguir tirar seu filho daqui... amanhã, com todas as
acusações retiradas. Ele nem sequer teria de responder a um processo nos Estados Unidos.
A reação de Peter Solomon foi imediata.
— Sem falar nas implicações jurídicas da sua sugestão, eu me recuso a ensinar ao meu filho
que o dinheiro resolve todos os problemas, ou que na vida não é preciso assumir a responsabilidade
pelos nossos atos, sobretudo em uma questão séria como essa.
— O senhor quer deixar seu filho aqui?
— Eu gostaria de falar com ele. Agora.
— Como eu disse, nós temos regras. Não é possível ver seu filho agora... a menos que o senhor
queira negociar a libertação imediata dele.
Um silêncio frio pairou no ar por vários minutos.
— O Departamento de Estado entrará em contato com o senhor. Cuide bem de Zachary. Espero
que ele esteja dentro de um avião para casa ainda esta semana. Boa noite.
A porta bateu.
O Detento 37 não conseguiu acreditar nos próprios ouvidos. Que espécie de pai deixa o filho
neste buraco para lhe ensinar uma lição? Peter Solomon chegara ao cúmulo de recusar uma proposta
de limpar a ficha de Zachary.
Mais tarde naquela mesma noite, deitado em seu catre sem conseguir dormir, o Detento 37
percebeu como iria se libertar. Se o dinheiro era a única coisa que separava um prisioneiro da
liberdade, então ele já estava praticamente livre. Peter Solomon talvez não estivesse disposto a pôr a
mão no bolso, mas qualquer um que lesse os tabloides sabia que seu filho, Zachary, também tinha
muito dinheiro. No dia seguinte, o Detento 37 teve uma conversa particular com o diretor e sugeriu um
plano — um estratagema ousado e engenhoso que lhes daria exatamente o que eles queriam.
— Zachary Solomon teria que morrer para isso funcionar — explicou o Detento 37.— Mas nós
dois poderíamos sumir na mesma hora. O senhor poderia se refugiar nas ilhas gregas. Jamais tornaria
a ver este lugar.
Depois da conversa, o dois homens trocaram um aperto de mãos.
Logo Zachary Solomon estará morto, pensou o Detento 37, sorrindo ao imaginar como seria
fácil.
Dois dias depois, o Departamento de Estado entrou em contato com a família Solomon para dar
a trágica notícia. As fotografias da prisão mostravam o corpo brutalmente espancado do rapaz no chão
da cela, encolhido e sem vida. A cabeça tinha sido golpeada com uma barra de ferro, e o resto do corpo
estava deformado para além da imaginação humana. Ele parecia ter sido torturado antes de ser morto.
O principal suspeito era o próprio diretor da prisão, que havia desaparecido, provavelmente levando
todo o dinheiro do rapaz assassinado. Zachary havia assinado documentos que transferiam sua vasta
fortuna para uma conta particular. Todo o dinheiro fora retirado imediatamente após sua morte, sendo
impossível descobrir seu destino.
Peter Solomon pegou um jatinho particular para a Turquia e voltou com o caixão do filho, que foi
enterrado no cemitério da família. O diretor da prisão nunca foi encontrado. Nem nunca seria, como o
Detento 37 sabia. O corpo roliço do turco descansava agora no fundo do mar de Mármara, alimentando