Page 119 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 119

—  Sim,  sim,  o  senhor  veio  de  longe  —  dizia  ele  —,  mas  não  permitimos  visitas  durante  o
          primeiro mês. Regulamento estatal. Sem exceções.
                 A voz que respondeu era suave e refinada, cheia de agonia.
                 — Meu filho está bem?
                 — Seu filho é um viciado.
                 — Ele está sendo bem tratado?
                 — Bem o bastante — respondeu o diretor. — Isto aqui não é um hotel.
                 Fez-se um silêncio atormentado.
                 —  O  senhor  sabe  que  o  Departamento  de  Estado  dos  Estados  Unidos  vai  requisitar  uma
          extradição?
                 —  Sim,  sim,  eles  sempre  fazem  isso.  Ela  será  concedida,  embora  talvez  a  papelada  leve
          algumas semanas... ou até um mês... tudo depende.
                 — Depende de quê?
                 — Bem — disse o diretor —, nós aqui estamos com falta de pessoal. — Ele fez uma pausa. — É
          claro que às vezes a pessoa interessada, como é o caso do senhor, faz doações aos funcionários da
          prisão para ajudar a acelerar um pouco as coisas.
                 O visitante não respondeu.
                 — Sr. Solomon — prosseguiu o diretor, abaixando a voz —, para um homem como o senhor,
          para quem o dinheiro não é nada, sempre existem alternativas. Eu conheço pessoas no governo. Se o
          senhor  e  eu  trabalharmos  juntos,  podemos  conseguir  tirar  seu  filho  daqui...  amanhã,  com  todas  as
          acusações retiradas. Ele nem sequer teria de responder a um processo nos Estados Unidos.
                 A reação de Peter Solomon foi imediata.
                 — Sem falar nas implicações jurídicas da sua sugestão, eu me recuso a ensinar ao meu filho
          que o dinheiro resolve todos os problemas, ou que na vida não é preciso assumir a responsabilidade
          pelos nossos atos, sobretudo em uma questão séria como essa.
                 — O senhor quer deixar seu filho aqui?
                 — Eu gostaria de falar com ele. Agora.
                 — Como eu disse, nós temos regras. Não é possível ver seu filho agora... a menos que o senhor
          queira negociar a libertação imediata dele.
                 Um silêncio frio pairou no ar por vários minutos.
                 — O Departamento de Estado entrará em contato com o senhor. Cuide bem de Zachary. Espero
          que ele esteja dentro de um avião para casa ainda esta semana. Boa noite.
                 A porta bateu.
                 O Detento 37 não conseguiu acreditar nos próprios ouvidos. Que espécie de pai deixa o filho
          neste buraco para lhe ensinar uma lição? Peter Solomon chegara ao cúmulo de recusar uma proposta
          de limpar a ficha de Zachary.
                 Mais  tarde  naquela  mesma  noite,  deitado  em  seu  catre  sem  conseguir  dormir,  o  Detento  37
          percebeu  como  iria  se  libertar.  Se  o  dinheiro  era  a  única  coisa  que  separava  um  prisioneiro  da
          liberdade, então ele já estava praticamente livre. Peter Solomon talvez não estivesse disposto a pôr a
          mão  no  bolso, mas qualquer  um que  lesse  os tabloides  sabia  que  seu filho,  Zachary,  também tinha
          muito dinheiro. No dia seguinte, o Detento 37 teve uma conversa particular com o diretor e sugeriu um
          plano — um estratagema ousado e engenhoso que lhes daria exatamente o que eles queriam.
                 — Zachary Solomon teria que morrer para isso funcionar — explicou o Detento 37.— Mas nós
          dois poderíamos sumir na mesma hora. O senhor poderia se refugiar nas ilhas gregas. Jamais tornaria
          a ver este lugar.
                 Depois da conversa, o dois homens trocaram um aperto de mãos.
                 Logo  Zachary  Solomon  estará  morto,  pensou  o  Detento  37,  sorrindo  ao  imaginar  como  seria
          fácil.
                 Dois dias depois, o Departamento de Estado entrou em contato com a família Solomon para dar
          a trágica notícia. As fotografias da prisão mostravam o corpo brutalmente espancado do rapaz no chão
          da cela, encolhido e sem vida. A cabeça tinha sido golpeada com uma barra de ferro, e o resto do corpo
          estava deformado para além da imaginação humana. Ele parecia ter sido torturado antes de ser morto.
          O  principal  suspeito  era  o  próprio  diretor  da  prisão, que  havia  desaparecido,  provavelmente  levando
          todo o dinheiro do rapaz assassinado. Zachary havia assinado documentos que transferiam sua vasta
          fortuna para uma conta particular. Todo o dinheiro fora retirado imediatamente após sua morte, sendo
          impossível descobrir seu destino.
                 Peter Solomon pegou um jatinho particular para a Turquia e voltou com o caixão do filho, que foi
          enterrado no cemitério da família. O diretor da prisão nunca foi encontrado. Nem nunca seria, como o
          Detento 37 sabia. O corpo roliço do turco descansava agora no fundo do mar de Mármara, alimentando
   114   115   116   117   118   119   120   121   122   123   124