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os  siris  azuis  que  migravam  pelo  estreito  de  Bósforo.  A  fortuna  de  Zachary  Solomon  tinha  sido
          transferida  integralmente  para  uma  conta  numerada  impossível  de  rastrear.  O  Detento  37  era
          novamente um homem livre — livre e dono de uma imensa fortuna.
                 As ilhas gregas pareciam o paraíso. Sua luz. Seu mar. Suas mulheres.
                 Não havia nada que o dinheiro não pudesse comprar — identidades novas, passaportes novos,
          esperanças  novas.  Ele  escolheu  um  nome  grego  —  Andros  Dareios  —,  pois  Andros  significava
          “homem” e Dareios, “rico”. As noites escuras na prisão o haviam deixado com medo, e Andros jurou
          para si mesmo que nunca mais seria preso. Raspou os cabelos revoltos e abandonou para sempre o
          mundo  das  drogas.  Recomeçou  a  vida  do  zero  —  explorando  prazeres  nunca  antes  imaginados.  A
          serenidade  de  velejar  sozinho  no  azul-escuro  do  Egeu  substituiu  o  barato  de  heroína;  a  volúpia  de
          abocanhar  pedaços  suculentos  de  arni  souvlakia  direto  do  espeto  tornou-se  seu  novo  ecstasy;  e  a
          emoção de saltar das encostas escarpadas para o mar cheio de espuma de Mykonos virou sua cocaína.
                 Eu nasci de novo.
                 Andros comprou uma ampla villa na ilha de Syros e se instalou entre a bella gente na exclusiva
          cidade  de  Possidonia.  Esse  novo  mundo  girava  em  torno  não  apenas  da  riqueza,  mas  também  da
          cultura e da perfeição física. Seus vizinhos tinham muito orgulho de seus corpos e mentes, e isso era
          contagioso. O recém-chegado começou a correr na praia, a bronzear o corpo pálido e a mergulhar na
          leitura. Andros leu a Odisseia, de Homero, e ficou fascinado pelas imagens de fortes homens de bronze
          travando batalhas naquelas ilhas. No dia seguinte, começou a fazer musculação. Ficou maravilhado ao
          ver como seu peito e seus braços logo aumentaram de volume. Aos poucos, passou a sentir os olhares
          das mulheres observando-o, e a admiração delas era embriagante. Ele ansiava por ficar ainda mais
          forte.  E  ficou.  Com  a  ajuda  de  ciclos  de  anabolizantes  agressivos,  misturados  a  hormônios  de
          crescimento contrabandeados e intermináveis horas de malhação, Andros se transformou em algo que
          jamais  imaginara  vir  a  ser:  um  espécime  perfeito  de  homem.  Sua  estatura  e  sua  musculatura
          aumentaram e ele desenvolveu peitorais fortes e pernas grossas, musculosas, que mantinha sempre
          bronzeadas.
                 Agora todo mundo estava olhando.
                 Como Andros tinha sido alertado, os potentes anabolizantes e hormônios, além de modificar seu
          corpo, transformaram sua voz em um sussurro rouco que o fazia se sentir ainda mais misterioso. A voz
          suave e enigmática, o físico musculoso, o dinheiro e a recusa em falar sobre seu passado secreto eram
          uma combinação irresistível para as mulheres que o conheciam. Elas se entregavam com facilidade, e
          ele as satisfazia. Ninguém se fartava dele — das modelos de passagem pela ilha para fazer ensaios
          fotográficos às universitárias norte-americanas virgens em férias, passando pelas esposas solitárias dos
          vizinhos e por um ou outro rapaz. Eu sou uma obra-prima.
                 No entanto, com o passar dos anos, as aventuras sexuais de Andros começaram a perder o
          encanto. Assim como todo o resto. A culinária da ilha deixou de ter o mesmo sabor, os livros já não
          prendiam seu interesse e até os estonteantes poentes vistos de sua villa pareciam sem graça. Como
          isso é possível? Apesar de ter apenas 20 e poucos anos, sentia-se velho, O que mais a vida tem a
          oferecer? Ele havia esculpido o próprio corpo para transformá-lo numa obra de arte; havia se instruído e
          alimentado  a  mente  com  cultura;  fizera  do  paraíso  seu  lar;  e  tinha  o  amor  de  qualquer  pessoa  que
          desejasse.
                 No entanto, por incrível que parecesse, sentia-se tão vazio quanto naquela prisão turca.
                 O que está faltando para mim?
                 Vários  meses  depois,  ele  teve  a  resposta.  Andros  estava  sentado  sozinho  em  sua  villa,
          zapeando  distraidamente  os  canais  de  TV  no  meio  da  noite,  quando  se  deparou  com  um  programa
          sobre  os  segredos  da  Francomaçonaria.  O  programa  era  malfeito,  continha  mais  perguntas  do  que
          respostas, mas mesmo assim ele ficou intrigado com a enorme quantidade de teorias da conspiração
          que cercavam a irmandade. O narrador ia descrevendo uma lenda depois da outra.
                 A Francomaçonaria e a Nova Ordem Mundial...
                 O Grande Selo Maçônico dos Estados Unidos...
                 A Loja Maçônica P2...
                 O Segredo Perdido...
                 A Pirâmide Maçônica...
                 Andros se sentou ereto, espantado. Pirâmide. O narrador começou a contar a história de uma
          misteriosa pirâmide de pedra gravada com inscrições que prometiam conduzir a um saber perdido e a
          um  poder  incomensurável.  A  história,  embora  aparentemente  inverossímil,  despertou  nele  uma
          lembrança distante... a vaga recordação de uma época bem mais obscura. Andros se lembrou do que
          Zachary Solomon tinha escutado do pai em relação a uma misteriosa pirâmide.
                 Será possível? Andros se esforçou para recordar os detalhes.
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