Page 227 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 227

antimaçônicos, fundamentalistas e adeptos da teoria da conspiração alardeando ódio e medo, dando
          início a uma nova caça às bruxas puritana.
                 A verdade será distorcida, Langdon sabia. Como sempre acontece com os maçons.
                 A  realidade  é  que  a  ênfase  da  irmandade  na  morte  representa,  no  fundo,  uma  intensa
          celebração da vida. O objetivo do ritual maçônico é despertar o homem adormecido dentro de cada um,
          tirá-lo de seu escuro caixão de ignorância, alçá-lo à luz e dar-lhe olhos para ver. Somente por meio da
          morte o homem pode compreender totalmente sua experiência de vida. Apenas depois de entender que
          seus dias na Terra são finitos ele pode compreender a importância de vivê-los com honra, integridade e
          altruísmo.
                 Essas  iniciações  causam  desconcerto  porque  pretendem  ser  transformadoras.  Os  votos
          maçônicos são implacáveis porque visam lembrar que a honra de um homem e sua “palavra” são tudo o
          que ele pode levar deste mundo. E seus ensinamentos são misteriosos porque têm como objetivo ser
          universais... transferidos por meio de uma linguagem comum de símbolos e metáforas que transcendem
          religiões, culturas e raças... criando uma “consciência mundial” unificada de amor fraterno.
                 Durante um breve instante, Langdon sentiu uma centelha de esperança. Tentou reconfortar a si
          mesmo dizendo que, se aquele vídeo de fato vazasse, o público provaria ser tolerante e ter a mente
          aberta.  Se  analisassem  melhor  a  situação,  as  pessoas  perceberiam  que  todos  os  rituais  espirituais
          contêm  aspectos  que  podem  parecer  macabros  quando  retirados  do  contexto  —  reconstituições  da
          crucificação, ritos judaicos de circuncisão, batismo dos mortos pelos mórmons, exorcismos católicos, o
          niqab  islâmico,  as  curas  xamanísticas  pelo  transe,  a  cerimônia  judaica  de  Kaparot  e  até  mesmo  a
          comunhão do corpo e do sangue de Cristo.
                 Eu  estou  sonhando,  sabia  Langdon.  Este  vídeo  vai  gerar  o  caos.  Ele  podia  imaginar  o  que
          aconteceria caso os líderes mais importantes da Rússia ou do mundo islâmico fossem vistos em um
          vídeo apertando facas contra peitos nus, fazendo juramentos brutais, simulando assassinatos, deitando-
          se  em  caixões  simbólicos  e  bebendo  vinho  em  um  crânio  humano.  A  indignação  global  seria
          instantânea e arrasadora.
                 Que Deus nos ajude...
                 Na tela, o iniciado levou o crânio à boca. Ele o inclinou... e sorveu todo o vinho cor de sangue...
          selando  seu  juramento.  Então  baixou  o  crânio  e  olhou  para  o  grupo  à  sua  volta.  Os  homens  mais
          poderosos dos Estados Unidos, aqueles nos quais o país mais confiava, menearam a cabeça em um
          gesto de aprovação. “Bem-vindo, irmão”, disse Peter Solomon.
                 Enquanto a imagem escurecia, Langdon percebeu que tinha prendido a respiração.
                 Sem dizer nada, Sato fechou a maleta e tirou-a do colo de Langdon. O professor se virou para
          ela  tentando  falar,  mas  não  encontrou  palavras.  Pouco  importava.  Estava  na  cara  que  ele  havia
          compreendido.  Sato  tinha  razão.  A  crise  daquela  noite  era  de  segurança  nacional...  e  alcançara
          proporções inimagináveis.





          CAPÍTULO 118


                 Vestido com sua tanga, Mal’akh andava de um lado para outro em frente à cadeira de rodas de
          Peter Solomon.
                 —  Peter  —  sussurrou  ele,  saboreando  cada  instante  de  horror  do  prisioneiro  —,  você  se
          esqueceu de que tem uma segunda família.., seus irmãos maçons. E vou destruí-los também... a menos
          que você me ajude.
                 À luz brilhante do computador em seu colo, Solomon parecia quase catatônico depois de assistir
          ao vídeo.
                 — Por favor — gaguejou ele por fim, erguendo os olhos. — Se isso vier a público...
                 —  Se?  —  Mal’akh  riu,  gesticulando  para  o  pequeno  modem  de  celular  plugado  na  lateral  do
          laptop. — Estou conectado ao mundo.
                 — Você não iria...
                 Eu vou, pensou Mal’akh, se deliciando com o pavor de Solomon.
                 — Você tem o poder de me deter — disse ele. — E de salvar sua irmã. Mas precisa revelar o
          que eu quero saber. A Palavra Perdida está escondida em algum lugar, Peter, e sei que esta grade
          indica exatamente onde encontra-la.
   222   223   224   225   226   227   228   229   230   231   232