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antimaçônicos, fundamentalistas e adeptos da teoria da conspiração alardeando ódio e medo, dando
início a uma nova caça às bruxas puritana.
A verdade será distorcida, Langdon sabia. Como sempre acontece com os maçons.
A realidade é que a ênfase da irmandade na morte representa, no fundo, uma intensa
celebração da vida. O objetivo do ritual maçônico é despertar o homem adormecido dentro de cada um,
tirá-lo de seu escuro caixão de ignorância, alçá-lo à luz e dar-lhe olhos para ver. Somente por meio da
morte o homem pode compreender totalmente sua experiência de vida. Apenas depois de entender que
seus dias na Terra são finitos ele pode compreender a importância de vivê-los com honra, integridade e
altruísmo.
Essas iniciações causam desconcerto porque pretendem ser transformadoras. Os votos
maçônicos são implacáveis porque visam lembrar que a honra de um homem e sua “palavra” são tudo o
que ele pode levar deste mundo. E seus ensinamentos são misteriosos porque têm como objetivo ser
universais... transferidos por meio de uma linguagem comum de símbolos e metáforas que transcendem
religiões, culturas e raças... criando uma “consciência mundial” unificada de amor fraterno.
Durante um breve instante, Langdon sentiu uma centelha de esperança. Tentou reconfortar a si
mesmo dizendo que, se aquele vídeo de fato vazasse, o público provaria ser tolerante e ter a mente
aberta. Se analisassem melhor a situação, as pessoas perceberiam que todos os rituais espirituais
contêm aspectos que podem parecer macabros quando retirados do contexto — reconstituições da
crucificação, ritos judaicos de circuncisão, batismo dos mortos pelos mórmons, exorcismos católicos, o
niqab islâmico, as curas xamanísticas pelo transe, a cerimônia judaica de Kaparot e até mesmo a
comunhão do corpo e do sangue de Cristo.
Eu estou sonhando, sabia Langdon. Este vídeo vai gerar o caos. Ele podia imaginar o que
aconteceria caso os líderes mais importantes da Rússia ou do mundo islâmico fossem vistos em um
vídeo apertando facas contra peitos nus, fazendo juramentos brutais, simulando assassinatos, deitando-
se em caixões simbólicos e bebendo vinho em um crânio humano. A indignação global seria
instantânea e arrasadora.
Que Deus nos ajude...
Na tela, o iniciado levou o crânio à boca. Ele o inclinou... e sorveu todo o vinho cor de sangue...
selando seu juramento. Então baixou o crânio e olhou para o grupo à sua volta. Os homens mais
poderosos dos Estados Unidos, aqueles nos quais o país mais confiava, menearam a cabeça em um
gesto de aprovação. “Bem-vindo, irmão”, disse Peter Solomon.
Enquanto a imagem escurecia, Langdon percebeu que tinha prendido a respiração.
Sem dizer nada, Sato fechou a maleta e tirou-a do colo de Langdon. O professor se virou para
ela tentando falar, mas não encontrou palavras. Pouco importava. Estava na cara que ele havia
compreendido. Sato tinha razão. A crise daquela noite era de segurança nacional... e alcançara
proporções inimagináveis.
CAPÍTULO 118
Vestido com sua tanga, Mal’akh andava de um lado para outro em frente à cadeira de rodas de
Peter Solomon.
— Peter — sussurrou ele, saboreando cada instante de horror do prisioneiro —, você se
esqueceu de que tem uma segunda família.., seus irmãos maçons. E vou destruí-los também... a menos
que você me ajude.
À luz brilhante do computador em seu colo, Solomon parecia quase catatônico depois de assistir
ao vídeo.
— Por favor — gaguejou ele por fim, erguendo os olhos. — Se isso vier a público...
— Se? — Mal’akh riu, gesticulando para o pequeno modem de celular plugado na lateral do
laptop. — Estou conectado ao mundo.
— Você não iria...
Eu vou, pensou Mal’akh, se deliciando com o pavor de Solomon.
— Você tem o poder de me deter — disse ele. — E de salvar sua irmã. Mas precisa revelar o
que eu quero saber. A Palavra Perdida está escondida em algum lugar, Peter, e sei que esta grade
indica exatamente onde encontra-la.