Page 226 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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A cena macabra era perturbadora.
E só piorava.
Quando os homens se reuniram em volta do irmão morto, a câmera escondida mostrou
claramente seus rostos. Langdon percebeu então que Solomon não era a única figura ilustre ali. Um dos
homens que olhava para o iniciado deitado em seu caixão aparecia na TV quase diariamente.
Um importante senador dos Estados Unidos.
Meu Deus...
A cena mudou outra vez. Ao ar livre agora... à noite... a mesma câmera nervosa... o homem
percorria a rua de uma cidade... fios louros esvoaçavam diante da lente... ele virava uma esquina... a
câmera baixava para mostrar alguma coisa na sua mão... uma nota de um dólar... um dose do Grande
Selo... o olho que tudo vê... a Pirâmide Inacabada... e então, abruptamente, a imagem se afastava para
revelar um contorno parecido ao longe... uma imensa construção em forma de pirâmide... cujas laterais
inclinadas se erguiam até um topo decepado.
A Casa do Templo.
Um medo profundo brotou dentro de Langdon.
O vídeo prosseguia... o homem agora corria até o prédio... subindo a escadaria de vários
níveis.., em direção às gigantescas portas de bronze... entre as duas esfinges guardiãs com 17
toneladas.
Um neófito adentrando a pirâmide da iniciação.
Então tudo escureceu.
Um órgão poderoso tocava ao longe... e uma nova imagem se materializou.
A Sala do Templo.
Langdon engoliu em seco.
A atmosfera naquele ambiente sombrio e grandioso era de grande expectativa. Sob a claraboia,
o altar de mármore preto cintilava ao luar. Ao seu redor, sentado em cadeiras estofadas com couro de
porco trabalhado à mão, um sóbrio conselho de renomados maçons de grau 33 aguardava para servir
de testemunha. O vídeo então percorreu seus rostos com uma precisão lenta e deliberada.
Langdon encarou a cena, horrorizado.
Embora tivesse sido pego de surpresa, o que via fazia todo o sentido. Uma reunião dos maçons
mais condecorados e eminentes na mais poderosa cidade do mundo obviamente incluiria muitas
pessoas influentes e conhecidas. De fato, sentados em volta do altar, adornados com suas compridas
luvas de seda, seus aventais maçônicos e suas joias reluzentes, estavam alguns dos homens mais
poderosos da nação.
Dois juízes da Suprema Corte...
O secretário de Defesa...
O presidente da Câmara...
Langdon sentiu um mal-estar enquanto o vídeo continuava a percorrer os rostos dos presentes.
Três importantes senadores... incluindo o líder da maioria no Senado...
O secretário de Segurança Nacional...
E... o diretor da CIA...
Tudo o que Langdon queria era desviar os olhos, mas não conseguiu. A cena, alarmante até
mesmo para ele, o deixara totalmente hipnotizado. Em um segundo, ele havia compreendido por que
Sato estava tão preocupada e aflita.
Então, na tela, a imagem deu lugar a uma cena chocante.
Um crânio humano... cheio de um líquido vermelho-escuro. A famosa caput mortuum estava
sendo oferecida ao iniciado pelas mãos esguias de Peter Solomon, cujo anel maçônico de ouro cintilava
à luz das velas. O líquido vermelho era vinho... mas brilhava feito sangue. O efeito visual era
assustador.
A Quinta Libação, percebeu Langdon, que já tinha lido relatos em primeira mão daquele
sacramento no livro Cartas sobre a Instituição Maçônica, de John Quincy Adams. Mesmo assim, ver
aquilo acontecendo... e sendo calmamente presenciado pelos homens mais poderosos dos Estados
Unidos... era estarrecedor. Aquela era uma das imagens mais chocantes que Langdon havia
testemunhado na vida.
O iniciado tomou o crânio nas mãos... e seu rosto se refletiu na superfície do vinho. “Que este
vinho que agora bebo se transforme em veneno mortal para mim”, declarou ele, “caso algum dia eu
descumpra meu juramento deforma consciente ou voluntária.”
Evidentemente, a intenção daquele iniciado era violar seu juramento de um modo inconcebível.
Langdon mal conseguia pensar no que poderia acontecer caso aquele vídeo viesse a público.
Ninguém entenderia. O governo enfrentaria uma grave turbulência. O noticiário seria tomado por grupos