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Langdon estava perto o suficiente agora para ver o sangue seco que havia escorrido do pulso e
          coagulado sobre a base de madeira. Ferimentos post-mortem não sangram... o que significa que Peter
          está vivo. Langdon não sabia se deveria ficar aliviado ou nauseado. A mão de Peter foi cortada com ele
          ainda vivo? Bílis subiu até sua garganta. Ele pensou em todas as vezes que seu querido amigo tinha
          estendido aquela mão para apertar a sua ou para lhe dar um caloroso abraço.
                 Durante vários segundos, Langdon sentiu a mente ficar vazia, como uma TV mal sintonizada que
          transmite apenas estática. A primeira imagem nítida que se formou foi totalmente inesperada.
                 Uma coroa... e uma estrela.
                 Langdon se agachou, examinando as pontas do polegar e do indicador de Peter. Tatuagens?
          Era  inacreditável,  mas  o  monstro  que  havia  feito  aquilo  parecia  ter  tatuado  pequenos  símbolos  nas
          pontas dos dedos de Peter.
                 No polegar, uma coroa. No indicador, uma estrela.
                 Não pode ser. Os dois símbolos foram registrados instantaneamente pela mente de Langdon,
          ampliando aquela cena horrenda para transformá-la em algo quase sobrenatural. Aqueles símbolos já
          haviam aparecido juntos muitas vezes na história, e sempre no mesmo lugar — nas pontas dos dedos
          da mão de alguém. Aquele era um dos ícones mais cobiçados e secretos do mundo antigo.
                 A Mão dos Mistérios.
                 O  ícone  raramente  era  visto  hoje  em  dia,  mas,  ao  longo  da  história,  havia  simbolizado  um
          poderoso chamado à ação. Langdon se esforçava para compreender o grotesco artefato à sua frente.
          Alguém usou a mão de Peter para fabricar a Mão dos Mistérios? Era inimaginável. Tradicionalmente, o
          ícone era esculpido em pedra ou madeira, ou então desenhado. Langdon nunca tinha ouvido falar de
          uma versão de carne e osso. A ideia era repulsiva.
                 — Senhor? — disse um segurança atrás de Langdon. — Afaste-se, por gentileza. Langdon mal
          ouviu  o  que  ele  disse.  Há  outras  tatuagens.  Embora  não  pudesse  ver  as  pontas  dos  três  dedos
          fechados,  Langdon  sabia  que  também  ostentariam  marcas  singulares.  Era  essa  a  tradição.  Cinco
          símbolos ao todo. Ao longo dos milênios, os símbolos na ponta dos dedos da Mão dos Mistérios nunca
          haviam mudado... e tampouco o objetivo simbólico da mão.
                 A mão representa... um convite.
                 Langdon  teve  um  súbito  calafrio  ao  recordar  as  palavras  do  homem  que  o  levara  até  ali.
          Professor,  o  senhor  vai  receber  o  convite  da  sua  vida.  Nos  tempos  antigos,  a  Mão  dos  Mistérios
          representava,  na  verdade,  o  convite  mais  cobiçado  da  Terra.  Receber  aquele  ícone  era  uma
          convocação sagrada para se unir a um grupo de elite — aqueles que eram considerados os guardiães
          do conhecimento secreto de todos os tempos. O convite não só era uma grande honra, como também
          significava que um mestre o considerava digno de receber aquele conhecimento oculto. A mão que o
          mestre estende ao iniciado.
                 — Senhor — insistiu o segurança, pousando uma das mãos com firmeza no ombro de Langdon
          —, preciso que se afaste agora mesmo.
                 — Eu sei o que isto aqui significa — disse Langdon. — Posso ajudar.
                 — Agora! — repetiu o segurança.
                 — Meu amigo está em apuros. Nós precisamos...
                 Langdon  sentiu  braços  fortes  erguerem  seu  corpo  e  levarem-no  para  longe  da  mão.
          Simplesmente deixou aquilo acontecer.., sentia-se abalado demais para protestar. Um convite formal
          acabara de ser entregue. Alguém estava convocando Langdon para destrancar um portal místico que
          iria revelar um mundo de antigos mistérios e conhecimento oculto.
                 Mas era tudo uma insanidade.
                 Delírios de um louco.


                 CAPÍTULO 14

                 A  limusine  de  Mal’akh  foi  se  afastando  do  Capitólio,  avançando  na  direção  leste  pela
          Independence Avenue. Um jovem casal na calçada apertou os olhos para tentar discernir alguma coisa
          através dos vidros traseiros escurecidos, torcendo para ver alguma celebridade.
                 Eu estou na frente, pensou Mal’akh, sorrindo consigo mesmo.
                 Mal’akh adorava a sensação de poder que tinha ao dirigir sozinho aquela limusine descomunal.
          Nenhum de seus outros cinco carros poderia lhe proporcionar aquilo de que precisava naquela noite —
          a garantia de privacidade. Total privacidade. Naquela cidade, limusines gozavam de uma espécie de
          imunidade tácita. Embaixadas sobre rodas. Os policiais que trabalhavam perto da Capitol Hill, a colina
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