Page 26 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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Ela aquiesceu. Meu irmão, sempre perfeito no comando do espetáculo.
— Para trás. — Peter apertou as teclas.
A porta de aço se abriu com um silvo alto.
Além da soleira havia apenas um breu total... um imenso vazio. Um gemido oco parecia ressoar
das profundezas. Katherine sentiu uma corrente de ar frio emanar lá de dentro. Era como olhar para o
Grand Canyon à noite.
— Imagine um hangar vazio esperando uma frota de Airbus — disse-lhe o irmão —, e vai ter
uma ideia geral.
Katherine se pegou dando um passo para trás.
— O galpão em si é grande demais para ser aquecido, mas seu laboratório é uma sala de
concreto, mais ou menos no formato de um cubo, com isolamento térmico. Ela está situada bem lá no
fundo do galpão para ficar o mais afastada possível.
Katherine tentou visualizar aquilo. Uma caixa dentro de uma caixa. Esforçou-se para enxergar na
escuridão, mas esta era impenetrável.
— A que distância ela está?
— A uma boa distância... um campo de futebol caberia facilmente aqui dentro. Mas devo avisar
que o trajeto é um pouco perturbador. É excepcionalmente escuro.
Katherine espiou pela quina, hesitante.
— Não tem interruptor?
— O Galpão 5 não tem fiação elétrica.
— Mas... então como é que um laboratório pode funcionar aí dentro?
Ele deu uma piscadela.
— Gerador de hidrogênio.
O queixo de Katherine caiu.
— Você está de brincadeira, não é?
— Energia limpa suficiente para abastecer uma cidade pequena. O seu laboratório está
totalmente isolado das ondas de rádio emitidas pelo restante do complexo. Além disso, toda a parte
externa do galpão é revestida de membranas fotorresistentes de modo a proteger da radiação solar os
artefatos em seu interior. Basicamente, este galpão é um ambiente isolado e neutro do ponto de vista
energético.
Katherine estava começando a entender o atrativo do Galpão 5. Como grande parte do seu
trabalho consistia em quantificar campos energéticos anteriormente desconhecidos, suas experiências
precisavam ser feitas em um local isolado de qualquer radiação externa ou “ruído branco” Isso incluía
interferências tão sutis quanto “radiações cerebrais” ou “emissões de pensamento” geradas por pessoas
próximas. Por esse motivo, um laboratório situado em um campus universitário ou em um hospital não
daria certo, mas um galpão deserto no CAMS não poderia ser mais perfeito.
— Vamos até lá dar uma olhada. — Peter estava sorrindo ao adentrar a vasta escuridão. — É só
me seguir.
Katherine ficou parada na soleira da porta. Mais de 100 metros na escuridão total? Quis sugerir
uma lanterna, mas seu irmão já havia desaparecido no abismo.
— Peter? — chamou ela.
— Dê o salto da fé — disse ele lá da frente, com a voz já começando a sumir. — Você vai
encontrar o caminho. Confie em mim.
Ele está de brincadeira, não é? O coração de Katherine batia disparado enquanto ela avançava
poucos metros além da soleira, tentando ver alguma coisa no escuro. Não enxergo nada! De repente, a
porta de aço sibilou, fechando-se atrás dela com um baque e fazendo-a mergulhar nas trevas. Não
havia uma só centelha de luz em lugar nenhum.
— Peter?
Silêncio.
Você vai encontrar o caminho. Confie em mim.
Hesitante, ela foi avançando vagarosamente, às cegas. Salto da fé? Katherine não conseguia
sequer enxergar a própria mão diante do rosto. Continuou seguindo em frente, mas em poucos
segundos ficou totalmente perdida. Para onde estou indo?
Isso fazia três anos.
Agora, ao chegar diante da mesma porta de aço, Katherine percebeu o enorme caminho que
havia percorrido desde aquela primeira noite. Seu laboratório — apelidado de Cubo — havia se tornado
seu lar, um santuário nos recônditos do Galpão 5. Exatamente como Peter previra, ela havia encontrado
seu caminho em meio à escuridão naquela noite, e em todos os outros dias desde então — graças a um
sistema de direcionamento engenhosamente simples que seu irmão lhe permitira descobrir sozinha.