Page 30 - ED 180_digital
P. 30
VIAGEM
“No vasto território do Noroeste de Portugal, um manto verde e exuberante desce das serras, co-
bre os vales interiores, prolonga-se pelas planícies e estende-se até ao mar. (...) no horizonte mais
vasto da paisagem, o verde impõe-se como a marca maior da identidade de toda a região.”
Manuel Carvalho
Os vinhos verdes de Portugal
Texto e fotos
Johnny Mazzilli
Em minha segunda viagem a Portugal visitei o aprazível Minho, região vinícolas do país, são produzidos anualmente 85 milhões de litros de
no noroeste do país, célebre por seus vinhos verdes e sua gastrono- vinho. Aproximadamente 25 mil pequenos produtores espalham-se em
mia saborosa e opulenta. Comecei a viagem na belíssima cidade do uma área superior a sete mil quilometros quadrados.
Porto, famosa pelo vinho do Porto, mas também, justiça seja feita, por
tintos e brancos deliciosos. É na cidade do Porto que o célebre Rio O Minho e suas características
Douro deságua no Oceano Atlântico, após uma trajetória de 927 km O vinho verde é um estilo de vinho típico do Minho, elaborado a
desde sua nascente, a 2.080 metros de altitude, na Serra de Orbión, partir de variedades de uvas autóctones (locais). Caracterizam-se pela
Espanha. Na foz do rio, de um lado está o Porto, e do outro lado, Vila leveza, frescor, uma deliciosa acidez e baixa graduação alcoólica,
Nova de Gaia, com seus célebres barcos Rabelos, sempre ancorados entre 8% e 12%, enquanto os vinhos ‘normais’ tem, digamos, 11% a
a beira do rio, que antigamente faziam o transporte das barricas de 15%. Deve ser servido um pouco mais gelado do que um branco seco.
vinho do Porto até as seculares casas distribuidoras estabelecidas às Algumas uvas utilizadas em sua produção raramente são empregadas
margens do rio. Uma ponte comum liga as duas cidades poucos metros em vinhos secos, como as variedades brancas Avesso, Trajadura e
acima do nível do rio, mas a majestosa Ponte Arrábida, uma incrível Azal. Outras, como a Alvarinho e a Loureiro, são muito empregadas
estrutura metálica, descreve um grande arco por sobre o Rio Douro regionalmente também nos brancos secos. Os solos do Minho são,
bem mais acima, unindo as duas cidades em uma auto-estrada que em sua maioria, graníticos. Controvérsia à parte, sobre a tão falada
passa lá no alto. impossibilidade de transmissão de elementos minerais para o vinho,
Partindo do Douro, segui viagem e me estabeleci na histórica cida- que justificaria o conceito de mineralidade, a crença na região é a de
de de Guimarães, de onde ia e vinha em minhas visitas diárias aos que predominância rochosa dos solos reforça o caráter mineral dos
vinhedos da região. Um passeio pelo centro histórico de Guimarães vinhos verdes. A grande maioria é de brancos, mas há também tintos
proporciona um vislumbre da interessante arquitetura local. Banquinhas curiosos, produzidos com uvas de nomes curiosos, como Souzão e
de rua vendiam as deliciosas castanhas assadas na hora, sobre uma Vinhão, duas variedades cujas cascas apresentam insólita concentra-
chapa quente, que eu comia sem parar. ção de cor. Outra tinta interessante é a Espadeiro, um pouco menos
Era fim de outubro, nos vinhedos a colheita já havia se encerrado potente, utilizada na elaboração dos vinhos verdes rosés.
há algumas semanas e as atenções dos produtores estavam agora As mais antigas referências históricas à produção de vinhos na região
em seus tanques repletos de mosto, o trabalho com a safra do ano. que hoje conhecemos como dos Vinhos Verdes, são do filósofo romano
Quando o assunto é vinho, Portugal apresenta números superlativos. Séneca e do naturalista Plínio. Foi no noroeste, nas áreas mais povoadas
Somente no Minho, reconhecidamente uma das mais antigas regiões de Portugal desde os tempos da alta idade média, que a população
30 www.portalbonvivant.com.br