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FRAGMENTA HISTORICA                         Em torno do foral medieval da almotaçaria de
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           Em torno do foral medieval da almotaçaria de   específico com cerca de quarenta e oito itens.
           Lisboa 1                                   Trata-se do “Forall da muy nobre e sempre leall
                                                      çidade de Lixboa que mandou fazer. Joham
                                                      estevez correa escudeiro almotaçee moor da
           Do foral                                   çidade era de mjll iiijº Riiijº anos” . O objeto
                                                                                  6
           O  Livro  das  Posturas  Antigas, à guarda do   central deste estudo é, portanto, este foral.
           Arquivo  Municipal  de  Lisboa,  reúne  antigas   De acordo com o assento de abertura, o Livro
           posturas camarárias e diplomas régios do   das Posturas Antigas foi iniciado a 16 de julho
           concelho de Lisboa . A relevância deste    de 1477 e inclui uma série de normas jurídicas
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           códice para o conhecimento da cidade foi   emanadas pela autoridade concelhia, “pera
           já amplamente manifestada, quer pela sua   boom  rregimento  politico”,  trasladadas  dos
           transcrição integral a cargo de Maria Teresa   “liuros per que see reegem os almotaçees”. Com
           Campos Rodrigues e consequente publicação   efeito, até ao fólio 48 o Livro corresponde a um
           impressa pela Câmara Municipal em 1974 ,   códice  factício,  ao  qual  foram  acrescentados
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           quer pelos muitos estudos que o utilizam como   muitos outros diplomas até ao século XVI .
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           fonte principal . No seu interior, encontra-se um   Assim, por estar compreendido entre os fólios
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           conjunto de normas jurídicas ou regulamento    37 a 41-verso, o regulamento em apreço neste
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           1  Este trabalho encontra-se inserido no projeto   estudo faz, por isso, parte dos documentos
           de  investigação  de  pós-doutoramento  da  autora,   antigos copiados no último quartel do século
           financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia   XV.
           (SFRH/BPD/84349/2012).
           2  Arquivo Municipal de Lisboa – Núcleo Histórico [AML-  Porém, os referidos  “liuros per que see
           AH], Chancelaria da Cidade, Livro das Posturas Antigas.   reegem os almotaçees”  encontram-se hoje
           3  Cf. Livro das Posturas Antigas, leit. paleog. e transc.
           Maria Teresa Campos Rodrigues, Lisboa, Câmara   desaparecidos, dado não existir nenhum deles
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           Municipal, 1974. Já antes, este códice tinha merecido   no Arquivo Municipal de Lisboa . A exceção
           destaque na coleção  Documentos para a História da   parece ser o volume que compreende as mais
           Arte em Portugal (vol. 2) – Posturas diversas dos séculos   antigas  posturas  do  concelho  conhecidas.
           XIV a XVIII, Arquivo Histórico da Câmara Municipal de
           Lisboa, org. Maria Teresa Campos Rodrigues, Lisboa,
           Fundação Calouste Gulbenkian, 1969.        a própria ação ou modo de governo, administração,
           4   Entre  muitos  outros,  desde  os  mais  antigos:  Maria   organização ou ordem. No entanto, no século XVI, para
           Teresa Campos Rodrigues,  Aspectos da administração   este mesmo sentido passou a ser empregue a palavra
           municipal de Lisboa no século XV, Separata da Revista   regime ou regímen, já que o termo regimento, desde o
           Municipal (vol. 101-109), Lisboa, Câmara Municipal,   século XV, mas com maior incidência a partir do reinado
           1968; Iria Gonçalves, “Posturas Municipais e vida   de D. Manuel I, ganhou o significado de instrução ou
           urbana na baixa Idade Média: o exemplo de Lisboa”, in   conjunto de normas emanadas pelo poder régio – para
           Estudos Medievais, vol. 7, Lisboa, 1986, pp. 155-172; Iria   isso concorrendo também a presença do antepositivo
           Gonçalves, “Defesa do consumidor na cidade medieval:   regi-, que traduz a ideia de rei. Ora, como a origem do
           os produtos alimentares (Lisboa – séculos XIV-XV)”, in   foral em causa é concelhia pareceu mais apropriado
           Arquipélago – História, série 2, vol. 1-1, Ponta Delgada,   utilizar um termo que neste âmbito fosse neutro.
           1995, pp. 29-48; até aos mais recentes: Maria Manuela   6  Cf. Livro das Posturas Antigas…, pp. 98-113.
           Purificação,  A vivência do tempo na Idade Média, no   7  Maria Teresa  Campos Rodrigues,  “Nota Prévia”, em
           Livro  das  Posturas  Antigas  de  Lisboa, Dissertação de   Livro das Posturas Antigas, pp. VII-X.
           Mestrado apresentada à Universidade do Porto, 2009.  8  Neste arquivo, para além do  Livro das Posturas
           5  Optou-se por usar o termo  regulamento e não   Antigas, os códices existentes, contendo posturas,
           regimento,  não  só  devido  ao  primeiro  significar,   são mais recentes. O chamado  Prólogo de Posturas
           inequivocamente, um conjunto de regras ou normas   Antigas foi compilado por  um dos vereadores da
           jurídicas – ainda que tenha uma origem mais recente   cidade, o doutor Cristóvão de Faria, depois do ano de
           (século XIX) –, mas sobretudo porque o segundo parece   1519 e compreende apenas matérias relacionadas com
           ter tido outras aceções, ainda que relacionadas, durante   produtos consumíveis e transacionáveis (pão, farinha,
           o medievo e início do período moderno. Com efeito,   carne, peixe, fruta, hortaliça, queijo e leite, vinho,
           segundo José Pedro Machado,  Dicionário  etimológico   azeite, regataria, barcas, fornos, lenha, carvão). Já o
           da língua portuguesa, 5 vol.s, 3ª edição, Lisboa, Livros   Livro 1º de Posturas é composto sobretudo de cartas
           Horizonte, 1977, vol. 5, pp. 64-65, o termo regimento,   régias, reportando-se sobretudo ao período moderno.
           com  origem  no  latim,  regista  uma  primeira  utilização   Cf. AML-AH, Chancelaria da Cidade, Prólogo de Posturas
           em 1361, significando, não um conjunto de regras, mas   Antigas; Livro 1º de Posturas.


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