Page 41 - Franz Kafka: A metamorfose
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buscar à comida, estava exatamente como quando se tinha posto no quarto. - Efe-
        tivamente o corpo de Gregor apresentava-se espalmado e seco, agora que se podia
        ver de perto e sem estar apoiado nas patas.
        - Chega aqui um bocadinho, Grete disse a Senhora Samsa, com um sorriso trêmulo,
        A filha seguiu-os até ao quarto, sem deixar de voltar-se para ver o cadáver. A em-
        pregada fechou a porta e abriu a janela de par em par. Apesar de ser ainda muito
        cedo, sentia-se um certo calor no ar matinal. No fim de contas, estava-se já no fim
        de Março.
        Emergindo do quarto, os hóspedes admiraram-se de não ver o almoço preparado.
        Tinham sido esquecidos. - Onde está o nosso almoço? - perguntou sobranceira-
        mente o hóspede do meio à criada. Esta, porém, levou o indicador aos lábios e,
        sem uma palavra, indicou-lhes precipitadamente o quarto de Gregor. Para lá se di-
        rigiram e ali ficaram especados, com as mãos nos bolsos dos casacos, em torno do
        cadáver de Gregor, no quarto agora muito bem iluminado.
        Nessa altura abriu-se a porta do quarto dos Samsa e apareceu o pai, fardado, dando
        uma das mãos à mulher e outra à filha. Aparentavam todos um certo ar de terem
        chorado e, de vez em quando, Grete escondia o rosto no braço do pai.
        - Saiam imediatamente da minha casa! - exclamou o Senhor Samsa, apontando a
        porta, sem deixar de dar os braços à mulher e à filha.
        - Que quer o senhor dizer com isso? - interrogou-o o hóspede do meio, um tanto
        apanhado de surpresa, com um débil sorriso. os outros dois puseram as mãos atrás
        das costas e começaram a esfregá-las, como se aguardassem, felizes, a concretização
        de uma disputa da qual haviam de sair vencedores.
        - Quero dizer exatamente o que disse respondeu o Senhor Samsa, avançando a di-
        reito para o hóspede, juntamente com as duas mulheres. O interlocutor manteve-se
        no lugar, momentaneamente calado e fitando o chão, como se tivesse havido uma
        mudança no rumo dos seus pensamentos. - Então sairemos, pois, com certeza -
        respondeu depois, erguendo os olhos para o Senhor Samsa, como se, num súbito
        acesso de humildade, esperasse que tal decisão fosse novamente ratificada. O Sen-
        hor Samsa limitou-se a acenar uma ou duas vezes com a cabeça e unia expressão
        significativa no olhar. Na circunstância, o hóspede encaminhou-se, com largas pas-
        sadas, para o vesti- bulo. Os dois amigos, que escutavam a troca de palavras e tinham
        deixado momentaneamente de esfregar as mãos, apressaram-se a segui-lo, como se
        receassem que o Senhor Samsa chegasse primeiro ao vestíbulo, impedindo-os de
        se juntarem ao chefe. Chegados ao vestíbulo, recolheram os chapéus e as bengalas,
        fizeram uma vênia silenciosa e deixaram a casa. Com uma desconfiança que se rev-
        elou infundada, o Senhor Samsa e as duas mulheres seguiram-nos até ao patamar;
        debruçados sobre o corrimão, acompanharam com o olhar a lenta mas decidida
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