Page 39 - Franz Kafka: A metamorfose
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E num acesso de pânico que Gregor não conseguiu compreender largou a mãe,
puxando-lhe literalmente a cadeira, como se preferisse sacrificar a mãe a estar perto
de Gregor. Precipitadamente, refugiou-se atrás do pai, que também se levantou da
cadeira, preocupado com a agitação dela, e estendeu um pouco os braço, como se
quisesse protegê-la.
Gregor não tivera a menor intenção de assustar fosse quem fosse, e muito menos a
irmã. Tinha simplesmente começado a virar-se, para rastejar de regresso ao quarto,
Compreendia que a operação devia causar medo, Pois estava tão diminuído que só
lhe era possível efetuar a rotação erguendo a cabeça e apoiando-se com ela no chão
a cada passo. Parou e olhou em volta. Pareciam ter compreendido a Pureza das suas
intenções, e o alarme fora apenas passageiro; agora todos, em melancólico silêncio.
A mãe continuava sentada, com as pernas rigidamente esticadas e comprimidas
uma contra a outra, com os olhos a fecharem-se de exaustão. o pai e a irmã estavam
sentados ao lado um do outro, a irmã com um braço passado em torno do pescoço
do pai.
Talvez agora me deixem dar a volta, pensou Gregor, retomando os seus esforços.
Não podia evitar resfolgar de esforço e, de vez em quando, era forçado a parar, para
recobrar o fôlego. Ninguém o apressou, deixando-o completamente entregue a si
próprio. Completada a volta, começou imediatamente a rastejar direito ao quarto.
Ficou surpreendido com a distância que dele o separava e não conseguiu perceber
como tinha sido capaz de cobri-la há pouco, quase sem o notar. Concentrado na
tarefa de rastejar o mais depressa possível, mal reparou que nem um som, nem uma
exclamação da família, lhe perturbavam o avanço. Só quando estava no limiar da
porta é que virou a cabeça para trás, não completamente, porque os músculos do
pescoço estavam a ficar perros, mas o suficiente para verificar que ninguém se tinha
mexido atrás dele, exceto a irmã, que se pusera de pé. o seu último olhar foi para a
mãe, que ainda não mergulhara completamente no sono.
Mal tinha entrado no quarto, sentiu fecharem apressadamente a porta e darem a
volta à chave. O súbito ruído atrás de si assustou-o tanto que as pernas fraquejaram.
Fora a irmã que revelara tal precipitação. Tinha-se mantido de pé, à espera, e dera
um salto para fechar a porta. Gregor, que nem tinha ouvido a sua aproximação,
escutou-lhe a voz:
- Até que enfim! - exclamou ela para os pais, ao girar a chave na fechadura.
- E agora?, perguntou Gregor a si mesmo, relanceando os olhos pela escuridão. Não
tardou em descobrir que não podia mexer as pernas. Isto não o surpreendeu, pois
o que achava pouco natural era que alguma vez tivesse sido capaz de agüentar-se
em cima daquelas frágeis perninhas. Tirando isso, sentia-se relativamente bem. É
certo que lhe doía o corpo todo, mas parecia-lhe que a dor estava a diminuir e que