Page 20 - Jornal Gueto 2017
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vulgarmente conhecido não serviu todas as   balhadores negros e negras são absorvidos
 mulheres.  pelo passe social e renda de casa, pelo que o
 A taxa de desemprego entre os jovens negros   trabalho não nos retira da pobreza; pelo con-
 e negras está acima do dobro da média na-  trário, encerra-nos num ciclo de pobreza que
 cional e muitos desses jovens nunca virão a ter   se reproduz de geração em geração.
 uma experiência formal de trabalho, ficando   Na procura de trabalho as mulheres negras
 sujeitos à chamada economia informal onde   vêm-se obrigadas a desfrisar o cabelo e os
 se incluí o crime. Muitos desses jovens aca-  homens negros a cortá-lo, ambos omitem
 bam presos e a trabalhar dentro das prisões   o nome do local onde moram, disfarçam a
 para várias empresas por valores indignos. Ao   pronúncia e a receiam colocar a fotografia
 contrario do que se pensa os jovens sujeitos   num currículo.
 ao operariado do crime não saem da pobreza,    Os negros e negras deste país vivem uma sit-
 trabalham por pouco, sem horário, sujeitos a   uação não muito diferente do tempo em que
 grandes níveis de risco e stress.   lhes foi imposto um código de indigenato
 Outros desses jovens acabam por ver na polí-  cuja atual lei da imigração e da nacionalidade
 cia e na militarização uma saída de emprego   deixam pouco a dever. A situação de mão-
 acabando a servir o capitalismo e o imperialis-  de-barata ou quase escrava é uma herança e
 RACISMO NO TRABALHO  mo que os oprime.  um prolongamento do colonialismo dentro e
 A maioria dos negros que ainda têm trabalho,   fora das metrópoles, continuando a forçar-nos
 Negros e negras estão sobre-representados em   muitos dos quais com habilitações superiores,   a imigrar, estrangulando os países de origem
 setores como a limpeza, trabalho doméstico,   encontram-se em funções desqualificadas,   e concentrando-nos  em bairros semelhantes
 a hotelaria, a restauração e a construção civil   com vínculos precários e baixos salários.  aos dos indígenas das colónias portuguesas no
 no mercado de trabalho cada vez mais racial-  Vários jovens negros e negras encontram-se a   século passado.
 izado.  trabalhar nos bairros em projetos financiados   As  importações  de  mão-de-obra  são  uma
 Constroem casas onde nunca poderão viver;   apenas para controlar e conter a sua própria   constante na história de Portugal. Aos escra-
 limpam corredores de universidade que não   comunidade. Nestes projetos chegam a estar   vos importados no século XVI para trabalhar
 poderão frequentar; cozinham em restaurantes   quatro meses sem receberem salário por abuso   a terra que os portugueses abandonaram e
 onde não poderão comer; auxiliam em hospi-  do  financiador, normalmente um  organismo   realizar os trabalhos domésticos que os por-
 tais onde nunca serão atendidos; são lojistas   estatal, voltando ao desemprego quando estes   tugueses enriquecidos negavam-se a fazer;
 em lojas onde são clientes indesejáveis; caixas   terminam, sem que daí resultem nem benefíci-  aos milhares de moçambicanos vendidos por
 em supermercado onde cada vez é mais difícil   os para a comunidade, nem para os próprios.  Salazar ao regime de apartheid na África do
 encher o carrinho de compras; cuidam dos fil-  Muitos dos universitários negros e negras   Sul, para trabalhar nas minas de ouro; aos
 hos das patroas durante muito mais tempo do   vêm-se obrigados a abandonar os estudos por   chamados contratados levados  para Ango-
 que alguma vez poderão cuidar dos seus.  não conseguir pagá-los.  la e São Tomé; às mais recentes importações
 Mais de metade dos homens de meia-idade   Muitas famílias negras que trabalharam vinte   de mão-de-obra dos anos 90 para fazer as
 negros que construíram este país, as suas ca-  a trinta anos em Portugal são agora desapro-  grandes obras públicas de Portugal e trabalhar
 sas, os seus centros comerciais, os seus metro-  priadas das suas casas e removidas para zonas   nos serviços, eufemisticamente chamam-se
 politanos e os seus hotéis encontram-se agora   com menos serviços, com poucos transportes e   vagas de imigração.
 desempregados, não gozarão de uma reforma.  mais caras para chegar ao trabalho, em edifíci-  Mais do que o mito dos imigrantes que têm
 A maioria das mulheres negras têm dois ou   os de construção de má qualidade de rendas   vindo  à  procura  de  uma  vida  melhor  temos
 três trabalhos, porque é única forma de gan-  equiparadas ao mercado livre de arrendamen-  vindo responder a necessidades de mão-de-
 harem  o  dinheiro  suficiente  para  sustentar   to. Muitos ainda estão a ser coagidos por insti-  obra  escrava  da indústria capitalista,  sem a
 minimamente os lares, trabalhando para além   tuições públicas a abandonar o país.  qual não seria possíveis as suas grandes mar-
 dos seus limites físicos, acrescentando ainda a   Por morarem nas periferias a maioria dos tra-  gens de lucro e o próprio funcionamento.
 lida doméstica diária da sua própria casa.  balhadores negras e negros têm menos trans-  Racismo e capitalismo são duas práticas asso-
 A emancipação das mulheres brancas tem   portes públicos, pagam muito mais por eles e   ciadas contra as negras e os negros. Combater
 sido suportada pelas mulheres negras que têm   chegam  demorar  duas  horas  para  chegar  ao   o racismo no trabalho é combater ambas.
 a seu cargo a limpeza das suas casas e a edu-  seu posto de trabalho.
            1 de Maio de 2014.
 cação dos seus filhos, pelo que o feminismo   Os baixos salários pagos à maioria dos tra-


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