Page 19 - Jornal Gueto 2017
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vulgarmente conhecido não serviu todas as                         balhadores negros e negras são absorvidos
                                                                 mulheres.                                                         pelo passe social e renda de casa, pelo que o
                                                                 A taxa de desemprego entre os jovens negros                       trabalho não nos retira da pobreza; pelo con-
                                                                 e negras está acima do dobro da média na-                         trário, encerra-nos num ciclo de pobreza que
                                                                 cional e muitos desses jovens nunca virão a ter                   se reproduz de geração em geração.
                                                                 uma experiência formal de trabalho, ficando                       Na procura de trabalho as mulheres negras
                                                                 sujeitos à chamada economia informal onde                         vêm-se obrigadas a desfrisar o cabelo e os
                                                                 se incluí o crime. Muitos desses jovens aca-                      homens negros a cortá-lo, ambos omitem
                                                                 bam presos e a trabalhar dentro das prisões                       o nome do local onde moram, disfarçam a
                                                                 para várias empresas por valores indignos. Ao                     pronúncia e a receiam colocar a fotografia
                                                                 contrario do que se pensa os jovens sujeitos                      num currículo.
                                                                 ao operariado do crime não saem da pobreza,                       Os negros e negras deste país vivem uma sit-
                                                                 trabalham por pouco, sem horário, sujeitos a                      uação não muito diferente do tempo em que
                                                                 grandes níveis de risco e stress.                                 lhes foi imposto um código de indigenato
                                                                 Outros desses jovens acabam por ver na polí-                      cuja atual lei da imigração e da nacionalidade
                                                                 cia e na militarização uma saída de emprego                       deixam pouco a dever. A situação de mão-
                                                                 acabando a servir o capitalismo e o imperialis-                   de-barata ou quase escrava é uma herança e
                  RACISMO NO TRABALHO                            mo que os oprime.                                                 um prolongamento do colonialismo dentro e
                                                                 A maioria dos negros que ainda têm trabalho,                      fora das metrópoles, continuando a forçar-nos
                  Negros e negras estão sobre-representados em   muitos dos quais com habilitações superiores,                     a imigrar, estrangulando os países de origem
                  setores como a limpeza, trabalho doméstico,    encontram-se em funções desqualificadas,                          e concentrando-nos  em bairros semelhantes
                  a hotelaria, a restauração e a construção civil   com vínculos precários e baixos salários.                      aos dos indígenas das colónias portuguesas no
                  no mercado de trabalho cada vez mais racial-   Vários jovens negros e negras encontram-se a                      século passado.
                  izado.                                         trabalhar nos bairros em projetos financiados                     As  importações  de  mão-de-obra  são  uma
                  Constroem casas onde nunca poderão viver;      apenas para controlar e conter a sua própria                      constante na história de Portugal. Aos escra-
                  limpam corredores de universidade que não      comunidade. Nestes projetos chegam a estar                        vos importados no século XVI para trabalhar
                  poderão frequentar; cozinham em restaurantes   quatro meses sem receberem salário por abuso                      a terra que os portugueses abandonaram e
                  onde não poderão comer; auxiliam em hospi-     do  financiador, normalmente um  organismo                        realizar os trabalhos domésticos que os por-
                  tais onde nunca serão atendidos; são lojistas   estatal, voltando ao desemprego quando estes                     tugueses enriquecidos negavam-se a fazer;
                  em lojas onde são clientes indesejáveis; caixas   terminam, sem que daí resultem nem benefíci-                   aos milhares de moçambicanos vendidos por
                  em supermercado onde cada vez é mais difícil   os para a comunidade, nem para os próprios.                       Salazar ao regime de apartheid na África do
                  encher o carrinho de compras; cuidam dos fil-  Muitos dos universitários negros e negras                         Sul, para trabalhar nas minas de ouro; aos
                  hos das patroas durante muito mais tempo do    vêm-se obrigados a abandonar os estudos por                       chamados contratados levados  para Ango-
                  que alguma vez poderão cuidar dos seus.        não conseguir pagá-los.                                           la e São Tomé; às mais recentes importações
                  Mais de metade dos homens de meia-idade        Muitas famílias negras que trabalharam vinte                      de mão-de-obra dos anos 90 para fazer as
                  negros que construíram este país, as suas ca-  a trinta anos em Portugal são agora desapro-                      grandes obras públicas de Portugal e trabalhar
                  sas, os seus centros comerciais, os seus metro-  priadas das suas casas e removidas para zonas                   nos serviços, eufemisticamente chamam-se
                  politanos e os seus hotéis encontram-se agora   com menos serviços, com poucos transportes e                     vagas de imigração.
                  desempregados, não gozarão de uma reforma.     mais caras para chegar ao trabalho, em edifíci-                   Mais do que o mito dos imigrantes que têm
                  A maioria das mulheres negras têm dois ou      os de construção de má qualidade de rendas                        vindo  à  procura  de  uma  vida  melhor  temos
                  três trabalhos, porque é única forma de gan-   equiparadas ao mercado livre de arrendamen-                       vindo responder a necessidades de mão-de-
                  harem  o  dinheiro  suficiente  para  sustentar   to. Muitos ainda estão a ser coagidos por insti-               obra  escrava  da indústria capitalista,  sem a
                  minimamente os lares, trabalhando para além    tuições públicas a abandonar o país.                              qual não seria possíveis as suas grandes mar-
                  dos seus limites físicos, acrescentando ainda a   Por morarem nas periferias a maioria dos tra-                  gens de lucro e o próprio funcionamento.
                  lida doméstica diária da sua própria casa.     balhadores negras e negros têm menos trans-                       Racismo e capitalismo são duas práticas asso-
                  A emancipação das mulheres brancas tem         portes públicos, pagam muito mais por eles e                      ciadas contra as negras e os negros. Combater
                  sido suportada pelas mulheres negras que têm   chegam  demorar  duas  horas  para  chegar  ao                    o racismo no trabalho é combater ambas.
                  a seu cargo a limpeza das suas casas e a edu-  seu posto de trabalho.
                                                                                                                                   1 de Maio de 2014.
                  cação dos seus filhos, pelo que o feminismo    Os baixos salários pagos à maioria dos tra-


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