Page 145 - Fortaleza Digital
P. 145

tal uma bebida?
      Becker teve vontade de sacudir o homem. Nada estava saindo da forma como
      ele havia planejado.
      - Deseja beber algo? - repetiu o barman. - Fino? Jerez?
      Ao fundo ouvia-se música clássica. Concerto de Brandenburgo, pensou Becker.
      Número quatro. Ele e Susan viram a orquestra de câmara da Academy of St.
      Martin in the Fields tocar os concertos de Brandenburgo na universidade, no ano
      anterior. Becker desejou que a namorada estivesse com ele naquele momento.
      Um leve sopro vindo de uma saída de ar-condicionado acima dele fez com que
      se lembrasse de como estava a temperatura lá fora. Teria que andar pelas ruas
      infernais e cheias de drogados de Triana procurando uma punk usando uma
      camisa com a bandeira da Inglaterra. Pensou em Susan outra vez.
      - Zumo de arándano - ouviu sua própria voz dizer mecanicamente. - Suco de
      mirtilo.
      O barman ficou confuso.
      - Solo? - O suco de mirtilo era popular nos drinques da Espanha, mas tomá-lo
      sozinho era inusitado.
      - Sí. Solo.
      - Echo un poco de Smirnoff? - insistiu o barman. - Um pouco de vodca?
      - No, gracias.
      - Gratis? Por conta da casa?
      158
      Com o cérebro latejando, Becker pensou nas ruas sujas de Triana, no calor
      sufocante e na longa noite que tinha pela frente.
      - Sí, échame un poco de vodca - concordou.
      O barman pareceu ter ficado feliz com a resposta e virou-se para preparar o
      drinque. Becker percorreu com os olhos o balcão ornamentado do bar pensando
      se estava sonhando. Qualquer coisa faria mais sentido do que a verdade.
      Sou um professor universitário em uma missão secreta. O barman retomou, fez
   140   141   142   143   144   145   146   147   148   149   150