Page 82 - Fortaleza Digital
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Ele ouviu vozes que vinham do corredor. Seguiu o som e chegou a uma porta de
      vidro translúcido, atrás da qual parecia estar havendo uma discussão.
      Relutantemente, Becker abriu a porta. Era a recepção. Um caos completo, como
      ele temia.
      A fila tinha cerca de dez pessoas, todas empurrando e gritando. Becker sabia que
      poderia passar a noite inteira ali, esperando pela ficha do canadense. Havia
      apenas uma secretária atrás da mesa, ouvindo as reclamações dos pacientes
      irritados. Ele ficou parado algum tempo na entrada, avaliando as opções. Tinha
      uma idéia melhor.
      - Con permisso! - gritou um atendente. Uma maca passou rapidamente. Becker
      abriu passagem e lhe perguntou:
      - Dónde está el teléfono?
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      Sem diminuir o passo, o homem apontou para uma porta dupla e sumiu.
      Becker caminhou na direção indicada e empurrou as portas. Entrou numa sala
      enorme - um antigo ginásio. O chão tinha uma cor verde desbotada e parecia
      entrar e sair de foco sob as luzes fluorescentes. Na parede, uma cesta de
      basquete pendia precariamente de seu suporte. Havia umas poucas dezenas de
      pacientes espalhados pelo chão em leitos baixos. No canto mais distante, logo
      abaixo de um placar queimado, havia um velho telefone público. Becker torceu
      para que funcionasse.
      Enquanto andava até o telefone, procurou uma moeda em seus bolsos. Encontrou
      75 pesetas em moedas de cinco. Era o troco do táxi, o suficiente para duas
      chamadas locais. Ele sorriu educadamente para uma enfermeira que estava de
      saída e finalmente chegou ao telefone. Pegou o fone e discou para Informações.
      Poucos segundos depois, tinha obtido o número da recepção da clínica.
      Fosse qual fosse o país, parecia haver uma verdade absoluta no que dizia respeito
      a recepcionistas: não podiam suportar o som de um telefone tocando sem que
      alguém atendesse. Nunca importava quantas pessoas estavam esperando para
      serem atendidas, a secretária sempre iria deixar de lado o que estivesse fazendo
      para responder à chamada. Becker digitou o número. Em breve seria atendido e,
      com toda a certeza, não seria difícil localizar a ficha de um canadense com um
      pulso quebrado e uma concussão. Só deveria haver um caso assim naquele dia.
      Becker supunha que a secretária não fosse querer dar o nome e o endereço do
      canadense para um estranho ao telefone, mas ele tinha um plano.
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