Page 158 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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cheiro era uma delícia e pareceu-lhe ver decorações próprias da época de
Natal. E não chegou a ter muita certeza se viu ou não algo parecido com
um pudim de passas. Quando o trenó parou, a raposa, que era a mais velha
entre os presentes, tinha acabado de levantar-se e erguia uma taça na pata
dianteira, preparando-se para dizer algumas palavras. Mas, logo que os
membros do grupo viram o trenó parar e compreenderam quem ia nele, a
alegria sumiu. O esquilo pai deteve o garfo a meio caminho da boca; um
dos sátiros parou o garfo já dentro da boca; e os esquilinhos começaram a
berrar de medo.
– Que audácia é essa? – perguntou a Feiticeira Branca sem obter
resposta. – Falem, seus vermes! Ou preferem que o meu anão lhes abra o
bico na ponta do chicote? Que esganação é essa? Onde é que foram arranjar
esses enfeites? E esse pudim de passas?
– Perdão, Majestade – disse a raposa. – São presentes que
recebemos. Se Vossa Majestade permite, bebo à saúde...
– Quem deu tudo isso?
– Foi o Pa... foi o Pa... foi o Pa-pai No-el – gaguejou a raposa.
– Quem?! – rugiu a feiticeira, saltando do trenó e chegando perto dos
pobres animais apavorados. – Mas ele não esteve aqui! Não pode ter estado
aqui! Como se atreve... Mas, se for mentira, está perdoada...
Um dos esquilinhos perdeu então a cabeça, inteiramente:
– Teve aqui... teve aqui... teve aqui, sim, senhora! – E tascava a
colher de madeira na mesa.
Edmundo viu a feiticeira morder os lábios com tanta força que uma
manchinha de sangue pintou sua face pálida. Depois, ela levantou a vara
mágica.
– Oh, não! Não! Por favor! – implorou Edmundo.
Mal disse e, onde pouco antes estivera aquela turminha alegre, viam-
se agora estátuas de bichos (um deles com o garfo de pedra a meio caminho
da boca de pedra), todos sentados em torno de uma mesa de pedra, sobre a
qual estavam colocados pratos de pedra e um pudim feito da mesmíssima
pedra.
– E você – disse a feiticeira, dando em Edmundo uma bofetada que o
deixou tonto – aprenda a não pedir misericórdia para espiões e traidores.
Vamos!
Edmundo, pela primeira vez desde que esta história começou, sentiu
pena de alguém que não fosse ele mesmo. Pareceram-lhe tão dignas de dó
aquelas figurinhas de pedra, sentadas ali, entra ano sai ano, dias de silêncio,