Page 153 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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A Sra. Castor e as crianças correram para fora, piscando por causa da
                  luz, sujas de terra, descabeladas, muito desarrumadas, esfregando os olhos
                  de sono.

                         – Venham! – repetia o castor, quase dançando de alegria. – Venham
                  só ver! Que surpresa para a feiticeira! O poder dela já está balançando.

                         –  Que  se  passa,  Sr.  Castor?  –  perguntou  Pedro,  ofegante,  subindo
                  pela encosta íngreme.

                         – Não disse a vocês que, por artes dela, era sempre inverno e o Natal
                  nunca chegava? Não disse?
                         Pois vejam agora!

                         E, de fato, lá em cima todos puderam ver.

                         Era  um  trenó  puxado  por  duas  renas,  com  sinetas  tilintando  nos
                  arreios. Renas muito maiores que as da feiticeira, mas eram castanhas, e
                  não brancas. No trenó estava alguém que todos reconheceram à primeira
                  vista.  Era  um  homem  alto,  vestido  de  vermelho-vivo  como  as  bagas  do
                  azevinho, com um capuz forrado de pele, uma barba branca, tão comprida
                  que  lhe  cobria  o  peito  como  uma  queda  d’água  espumante.  Todos  o
                  reconheceram  porque,  embora  essas  pessoas  só  existam  em  Nárnia,
                  podemos  vê-las  em  gravuras  e  ouvir  a  respeito  delas,  mesmo  em  nosso
                  mundo – o mundo que fica do lado de cá da porta do guarda-roupa. Oh!
                  Mas quando se tem a sorte de ver essa gente em Nárnia é muito diferente!
                  Alguns  dos  postais  coloridos  de  Papai  Noel  que  podemos  ver  em  nosso
                  mundo mostram um velho engraçado e bonachão. Não era bem assim para
                  as crianças. Era tão grande, tão alegre e tão real, que ficaram paralisadas de
                  espanto. E, apesar de todo o contentamento, sentiam também que era um
                  momento solene.

                         – Aqui estou, afinal! – disse ele. – Ela me impediu de vir durante
                  muito tempo, mas acabei chegando. Aslam está a caminho. O poder mágico
                  da feiticeira já começou a declinar.

                         Lúcia  sentiu-se  percorrida  por  aquele  calafrio  de  alegria  que  só
                  sentimos nas solenidades imponentes e tranqüilas,
                         – E agora – prosseguiu Papai Noel – vamos aos presentes! Aqui está
                  uma  máquina  de  costura  nova,  último  modelo,  para  a  Sra.  Castor.  Vou
                  deixá-la na casa, quando passar por lá.

                         – Queira desculpar – disse ela, fazendo uma reverência –, mas a casa
                  está fechada.

                         –  Fechaduras  e  chaves  não  têm  a  menor  importância  para  mim  –
                  respondeu Papai Noel. – Quanto ao seu presente, Sr. Castor, quando voltar,
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