Page 151 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Aqui estão quatro saquinhos: o menorzinho para a menorzinha; é
para você, minha querida! – acrescentou, voltando-se para Lúcia.
– Pelo amor de Deus, vamos – disse Lúcia.
– Estou quase pronta. – A Sra. Castor permitiu que o marido a
ajudasse a calçar as botas de andar na neve. – A máquina de costura deve
ser um pouco pesada para levar, não é?
– Pesada? – disse o marido. – Pesadíssima! Ou será que a senhora
acha que vai ter tempo de costurar pelo caminho?
– A idéia de que aquela bruxa é capaz de mexer nela... quebrar... até
roubar...
– Por favor, vamos logo? – disseram em coro os três.
Saíram finalmente. O Sr. Castor fechou a porta a chave (“Isto vai
atrasá-la um pouco mais”, explicou), e começaram a andar, cada um com
seu farnel às costas.
A neve cessara e a lua aparecera. Iam em fila indiana: primeiro, o Sr.
Castor, depois Lúcia, Pedro, Susana e, por fim, a Sra. Castor. Atravessado
o dique, seguiram ao longo do rio por uma vereda estreita, que se alongava
entre as árvores. As encostas do vale alteavam-se sobre as cabeças dos
viajantes, banhadas de luar.
– Ê melhor ir aqui por baixo – propôs o Sr. Castor –, pois não há
trenó que desça aqui; ela terá de ir por cima.
Teria sido muito agradável estar sentado numa boa poltrona,
apreciando a paisagem pela janela. Mesmo assim, Lúcia não deixou de se
divertir, a princípio. Mas, pouco a pouco, com o saco pesando-lhe nas
costas cada vez mais, ela imaginava se teria forças para chegar até o fim.
Não reparou na superfície gelada do rio, nas quedas d’água transformadas
em cascatas de gelo, nos montões de neve branca que se acumulavam no
alto das árvores, na grande lua resplandecente, no céu crivado de estrelas.
Só conseguia olhar para as perninhas curtas do Sr. Castor, tope-tope, tope-
tope, como se aquela caminhada pela neve não fosse terminar nunca. Lúcia
estava tão cansada que quase dormiu andando. De repente percebeu que o
Sr. Castor virara para a direita, afastando-se da margem do rio, levando-os
por uma encosta íngreme, onde o mato era mais espesso. Despertou
completamente quando o Sr. Castor desapareceu num buraco que os
arbustos ocultavam. Quando deu pelo que estava acontecendo, só pôde ver
a pontinha da cauda desaparecer pelo buraco.
Ela abaixou-se e começou a rastejar atrás do castor. Ouviu às costas
o ruído de quem se arrasta, ofegante. Daí a pouco estavam os cinco dentro
da caverna.