Page 152 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Por que isso? – perguntou Pedro, numa voz que na escuridão soou
                  cansada e pálida. (Espero que você saiba o que é uma voz pálida.)

                         –  É  um  velho  esconderijo  dos  castores,  para  situações  de  grande
                  perigo  –  explicou  o  Sr.  Castor.  –  É  um  segredo  nosso.  Não  é  muito
                  confortável, mas aqui poderemos dormir um pouco

                         –  Se  vocês  não  estivessem  com  tanta  pressa,  tinha  trazido  umas
                  almofadas – disse a Sra. Castor, em tom de censura.

                         Para Lúcia, a caverna não era tão agradável quanto a do Sr. Tumnus
                  – na verdade, era um simples buraco –, mas pelo menos estava seca. No
                  pequeno espaço, eles pareciam um monte de roupas. Mas se sentiam bem
                  aconchegados. Se pelo menos o chão fosse um pouquinho mais liso! Foi aí
                  que a Sra. Castor passou a todos, no escuro, um frasco de onde beberam
                  qualquer coisa que fazia tossir e engasgar. Mas, uma vez bebida, a coisa
                  dava um calor delicioso... e adormeceram instantaneamente.
                         Lúcia teve a impressão de que tinham passado uns poucos minutos.
                  Na  realidade,  foram  horas.  Acordou  com  frio,  o  corpo  doído,  sonhando
                  com  um  banho  quente.  Depois  sentiu  uns  compridos  bigodes  que  lhe
                  faziam cócegas no rosto e viu que a luz fria da manhã já entrava pela boca
                  da caverna. Mas estava totalmente acordada, e os outros também. Todos
                  estavam  sentados,  boquiabertos  e  de  olhos  arregalados,  dando  toda  a
                  atenção a um som – aquele mesmo som que estavam imaginando (e que
                  quase chegaram a escutar) durante o passeio da noite anterior. Era o tilintar
                  de muitas sinetas.

                         O  Sr.  Castor  saiu  do  esconderijo,  rápido  como  uma  flecha.  Você
                  pode achar, como Lúcia achou, que foi uma bobagem da parte dele. Pelo
                  contrário, foi uma coisa muito ajuizada. Ele sabia que podia rastejar entre
                  as  moitas, sem  ser  visto,  até  o  alto  da  montanha.  Queria  saber,  antes  de
                  tudo, que rumo tomava o trenó da feiticeira. Os outros ficaram à espera,
                  imaginando o que poderia ter acontecido. Esperaram cinco minutos, até que
                  ouviram algo que os fez estremecer de pavor. Eram vozes!

                         – Só pode ter sido apanhado! – pensou Lúcia.

                         Foi grande o espanto geral quando ouviram a voz do Sr. Castor, do
                  lado de fora da caverna:

                         –  Não  há  perigo.  Pode  vir,  Sra.  Castor.  Venham  todos,  Filhos  de
                  Adão. Tudo bem! Não é dela!
                         A gramática estava errada, mas é assim que os castores falam quando
                  estão excitados, isto é, em Nárnia, porque em nosso mundo não abrem o
                  bico, geralmente.
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