Page 147 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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parecia ser toda feita de torres de longas espirais pontiagudas, afiadas como
                  agulhas.  Faziam  lembrar  aqueles  chapéus  bicudos  dos  feiticeiros  ou  os
                  gorros que os meninos usavam de castigo na escola. E as torres brilhavam
                  ao  luar,  alongando  sombras  sinistras  sobre  a  neve.  Edmundo  começou  a
                  sentir medo.

                         Mas  era  tarde  demais  para  voltar.  Atravessou  o  rio  gelado,  em
                  direção  ao  castelo.  Tudo  imóvel,  um  silêncio  absoluto.  O  som  de  seus
                  passos  morria  na  neve  funda.  Foi  andando,andando,rodeou  o  castelo,
                  passando por várias torres até dar com uma porta. Foi preciso dar uma volta
                  inteira.  A  entrada  era  um  arco  enorme,  mas  os  pesados  portões  de  ferro
                  estavam abertos.

                         Aproximou-se cautelosamente e olhou o pátio, onde um espetáculo
                  inesperado quase lhe fez parar o coração. Junto dos portões, batido de luar,
                  viu  um  leão  imenso,  agachado  como  se  fosse  pular.  Com  os  joelhos
                  trêmulos, Edmundo permaneceu na sombra, sem poder avançar ou recuar.
                  Ficou tanto tempo imóvel, que seus dentes teriam começado a bater de frio,
                  se já não batessem de medo. Não sei dizer realmente quanto tempo passou;
                  para Edmundo pareceram horas.

                         A certa altura, começou a imaginar por que motivo o leão estaria tão
                  quieto: não se mexera um centímetro desde que o vira. Chegou um pouco
                  mais  perto,  tendo  o  cuidado,  tanto  quanto  possível,  de  conservar-se  na
                  sombra. Foi aí que, pela posição do leão, concluiu que não podia ter sido
                  visto.  “E  se  ele  virar  a  cabeça?”  –  pensou.  Na  realidade,  o  leão  olhava
                  atento  para  outra  pessoa,  nada  mais,  nada  menos  que  um  anãozinho,  de
                  costas, a pouca distância.
                         – Ah! Quando se lançar para cima do anãozinho, eu saio correndo!

                         Mas o tempo passava, e o leão e o anãozinho continuavam imóveis.
                  Até  que,  finalmente,  Edmundo  se  lembrou  do  que  ouvira  dizer  sobre  a
                  Feiticeira Branca, que transformava os seres vivos em estátuas de pedra.
                  Aquele  leão  talvez  fosse  de  pedra...  Reparou  também  que  o  dorso  e  a
                  cabeça  do  leão  estavam  cobertos  de  neve.  Sem  dúvida:  era  uma  estátua.
                  Nenhum ser vivo deixaria que a neve o cobrisse daquela maneira. Muito
                  devagar, com o coração a saltar do peito, encaminhou-se para o leão, mas
                  não  ousou  tocá-lo.  Só  depois  de  muito  tempo,  num  movimento  rápido,
                  estendeu  a  mão  e  viu  que  era  pedra  fria.  Tinha  sentido  medo  de  uma
                  estátua!

                         Foi um alívio imenso, tanto que, apesar do frio, se sentiu envolvido
                  por  uma  onda  de  calor,  ao  mesmo  tempo  que  teve  uma  idéia  que  lhe
                  pareceu maravilhosa: “Provavelmente... é o grande Aslam, de quem todos
                  falam. Já foi apanhado e virou pedra. Aqui está o fim de todos os belos
                  sonhos daqueles lá. Bacana! E ainda há quem tenha medo de Aslam!”
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