Page 145 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                        NA CASA DA FEITICEIRA







                  E agora você, naturalmente, quer saber o que aconteceu a Edmundo. Jantou
                  como os outros, mas sem gosto, pensando o tempo todo no manjar turco...
                  E  não  há  nada  que  tire  tanto  o  gosto  da  boa  comida  caseira  do  que  a
                  lembrança de um mau alimento enfeitiçado. Ouviu a conversa dos outros,
                  também  sem  satisfação,  pois  continuava  pensando  que  não  lhe  davam  a
                  devida  importância  e  que  o  estavam  colocando  à  margem.  Ninguém
                  pensava assim, só ele.

                         Desse modo, ouvira tudo o que o Sr. Castor contara acerca de Aslam,
                  até o momento em que tinham combinado encontrar-se com ele na Mesa de
                  Pedra.  Foi  aí  que,  muito  sorrateiramente,  começou  a  esgueirar-se  por
                  debaixo do reposteiro que cobria a porta. Bastava o nome de Aslam para
                  dar-lhe  uma  sensação  misteriosa  e  horrível,  assim  como  aos  outros  dava
                  uma misteriosa sensação de encantamento.

                         No momento exato em que o Sr. Castor dizia o poema sobre a “carne
                  de  Adão  e  o  osso  de  Adão”,  Edmundo  saiu  de  mansinho,  fazendo  girar
                  mais  de  mansinho  ainda  a  maçaneta  da  porta.  Antes  que  o  Sr.  Castor
                  dissesse que a Feiticeira Branca não era de fato humana, mas da raça dos
                  gênios e dos gigantes, Edmundo estava lá fora.
                         Não pense que Edmundo era tão ruim a ponto de desejar ver o irmão
                  e  as  irmãs  transformados  em  estátuas  de  pedra.  O  que  ele  queria
                  simplesmente  era  comer  manjar  turco,  ser  príncipe  (e  mais  tarde  rei)  e

                  vingar-se de Pedro, que o chamara de “cavalo”. Quanto ao que a feiticeira
                  pudesse fazer aos irmãos, não queria que fosse coisa muito boa (sobretudo
                  que ela não os colocasse no mesmo nível dele). Mas estava convencido (ou
                  tentava  convencer-se)  de  que  ela  não  poderia  ser  tão  má  como  diziam.
                  “Porque”  –  pensava  ele  –  “os  que  falam  mal  dela  são  os  inimigos,  e  é
                  provável  que  metade  do  que  dizem  não  seja  verdade.  Aliás,  comigo  foi
                  bastante amável, muito mais do que qualquer um deles. Que bom se ela for
                  a verdadeira rainha! É melhor do que aquele pavoroso Aslam!” Foi essa,
                  pelo  menos,  a  desculpa  que  Edmundo  arranjou  para  justificar  o  próprio
                  comportamento.  Mas  a  desculpa  não  era  lá  essas  coisas,  pois  no  fundo
                  sabia que a feiticeira era cruel.

                         Lá  fora,  a  primeira  coisa  que percebeu  quando  viu  a  neve  foi  que
                  havia esquecido o casaco na casa dos castores. Mas nem podia pensar em
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