Page 148 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Ficou gozando do leão de pedra, até que fez uma grande criancice:
tirou do bolso um toco de lápis, cobrindo com um bigodão preto o beiço
superior do leão e desenhando-lhe um par de óculos.
– Taí, Aslam, seu grande boboca! Está gostando de ser estátua?
Pensava que era muito esperto, hein?
Apesar dos rabiscos, a expressão do gigantesco animal era ainda tão
terrível, tão triste, tão digna, com os olhos perdidos no luar, que Edmundo
não conseguiu divertir-se com a brincadeira. Passou pelo leão e foi
andando pelo pátio.
Ao chegar no centro, viu que havia dezenas de estátuas espalhadas
por todos os lados, como peças num tabuleiro de xadrez, durante a partida.
Havia sátiros de pedra, lobos, raposas, gatos selvagens. Havia também
lindas figuras, que pareciam mulheres e que eram na verdade os espíritos
que vivem nas árvores. Havia ainda a estátua enorme de um centauro, um
cavalo alado e uma figura, alongada e frágil, que tomou por um dragão.
Tinham todos um ar tão estranho de coisas vivas, mas imóveis, no luar
branco e frio, que ele atravessou o pátio com a sensação de quem vive um
conto de fadas. Exatamente no centro, elevava-se a figura de um homem da
altura de uma árvore, de expressão severa, barba em profusão, com um
varapau enorme na mão direita. Mesmo sabendo que se tratava apenas de
um gigante de pedra, e não de carne e osso, Edmundo estremeceu ao passar
por ele.
Depois reparou na luz mortiça que vinha de uma porta, no lado mais
afastado do pátio. Dirigiu-se para lá e encontrou uma escada que conduzia
a uma porta aberta. Subiu. Deitado, à entrada, estava um lobo enorme.
– Não há perigo! Não há perigo! – repetia, tentando tranqüilizar-se. –
É um lobo de pedra. Não pode fazer nada.
Levantou a perna para passar por cima do lobo. A criatura,
monstruosamente grande, levantou-se, de pêlo eriçado, escancarou a boca
rubra e rosnou:
– Quem está aí? Pare, intruso. Quem é você?
– Com licença, Sr. Lobo – começou Edmundo, tremendo tanto, que
mal podia falar. – Meu nome é Edmundo, e sou o Filho de Adão que Sua
Majestade a Rainha encontrou há poucos dias no bosque. Venho para
contar que meu irmão e minhas irmãs estão neste momento em Nárnia...
aqui pertinho, na casa dos castores. Ela... ela quer vê-los.
– Vou informar Sua Majestade – falou o lobo. – Espere aqui e não se
mexa, se gosta de viver.