Page 159 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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noites  de  escuridão,  até  que  o  musgo  as  cobrisse  e  os  séculos  as
                  desfizessem em pó!

                         Puseram-se  a  correr  novamente,  e  então  Edmundo  reparou  que  a
                  neve  era  muito  mais  úmida  que  na  noite  anterior.  Reparou  também  que
                  sentia muito menos frio e que um pouco de nevoeiro ia-se formando. E o
                  trenó já não deslizava com tanta rapidez. Pensou a princípio que as renas
                  estivessem cansadas, mas logo compreendeu que a verdadeira razão não era
                  essa.  O  trenó  balançava,  sacudido  por  solavancos,  como  se  estivesse
                  batendo  em  pedras.  E  por  mais  que  o  anão  as  chicoteasse,  as  renas
                  avançavam cada vez mais lentamente. Ao mesmo tempo, havia um ruído
                  estranho em torno, mas o barulho da corrida e os tropeções e os gritos do
                  anão não permitiam a Edmundo perceber o que era. Até que, de repente, o
                  trenó ficou enterrado e não mais andou. Um momento de silêncio. E, no
                  silêncio,  o  menino  pôde  prestar  atenção  ao  ruído:  era  um  som  estranho,
                  agradável,  cantante,  sussurrante...  No  fim  das  contas,  não  era  assim  tão
                  estranho: tinha ouvido aquilo antes... mas não sabia dizer onde. Lembrou-
                  se  de  repente.  Era  barulho  de  água  corrente.  Por  toda  parte,  invisíveis,
                  corriam fios de água – cochichando, conversando, cantando, borbulhando e
                  até rugindo, distante. E o coração de Edmundo deu um pulo (mesmo sem
                  saber o motivo) quando ele verificou que não havia mais geada. Gotejava
                  dos ramos. Ao examinar atentamente uma árvore, viu desprender-se dela
                  uma  pesada  crosta  de  neve:  era  a  primeira  vez,  desde  que  entrara  em
                  Nárnia,  que  via  o  tronco  de  um  abeto.  Já  não  teve  tempo  de  observar,
                  porque a feiticeira gritou:

                         – Não fique aí de boca aberta, seu paspalhão! Ajude-me!

                         Edmundo teve de obedecer. Pulou para a neve – que era uma lama
                  líquida – e começou a ajudar o anão a puxar o trenó do buraco lamacento.
                  Conseguiram, por fim. O anão, tratando cruelmente as renas, fez com que
                  avançassem um pouco mais. A neve agora derretia-se pra valer; tapetes de
                  relva  começavam  a  surgir  em  todas  as  direções.  Se  você  nunca  viu  um
                  mundo de neve por tanto tempo, como Edmundo, não poderá compreender
                  o alívio que eram aquelas manchas verdes, depois das grandes e brancas
                  solidões. Mas o trenó parou de novo.

                         – Não há nada a fazer! – exclamou o anão. – Não podemos continuar
                  de trenó com a neve se derretendo.
                         – Então vamos a pé – declarou a feiticeira.

                         – Não conseguiremos apanhá-los – resmungou o anão. – Estão muito
                  na frente.
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