Page 277 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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- Que há, Espinhei? - Corin perguntou. O anão respondeu:

                        - Alteza, nossa marcha de hoje nos levará ao desfiladeiro à direita do
                  castelo de seu pai. Podemos estar lutando antes do anoitecer.

                        - Sei disso - respondeu Corin. - Sensacional!

                        - Sensacional ou não - retornou Espinhei -, tenho ordens estritas do rei
                  Edmundo  para  impedi-lo  de  entrar  na  luta.  Mas  você  poderá  assistir  à
                  batalha, e isso já é o suficiente para a sua idade.
                        - Que besteirada! - explodiu Corin. - É claro que vou entrar na luta.
                  Até a rainha Lúcia vai formar com os arqueiros.

                        - A rainha pode fazer como ela quiser - respondeu Espinhei. - Vossa
                  Alteza  é  que  está  sob  a  minha  guarda.  E  tem  de  jurar  solenemente  que
                  ficará ao meu lado, até que lhe dê autorização para partir. Do contrário - é a
                  palavra de Sua Majestade - teremos de seguir com os punhos amarrados
                  como dois prisioneiros.

                        - Eu lhe sento a mão na cara se tentar me amarrar - disse Corin.

                        - Gostaria de ver Vossa Alteza fazer isso.

                        Era o suficiente para um rapazinho como Corin. Em um segundo ele e
                  Espinhei estavam embolados no chão. Teria sido uma boa luta: Corin era
                  mais alto e de mais envergadura, mas Espinhei era mais velho e mais forte.
                  Mas não houve luta:  por pura  falta de sorte,  Espinhei pisou numa  pedra
                  solta  e  tacou  o  nariz  no  chão.  Quando  tentou  levantar-se,  viu  que  havia
                  torcido  o  tornozelo,  uma  torção  que  o  impediria  de  andar  ou  cavalgar
                  durante umas duas semanas.
                        - Veja o que fez - disse o rei Edmundo. - Privou-nos de um guerreiro
                  experimentado na hora da luta!

                        - Eu tomo o lugar dele, Majestade - disse Corin.

                        - Escute! - falou Edmundo. - Ninguém duvida da sua coragem. Mas
                  um rapazinho numa batalha só é um perigo para o seu próprio lado.

                        O rei foi chamado para decidir outra coisa, e Corin, após desculpar-se
                  cavalheirescamente com o anão, correu até Shasta e murmurou:
                        - Depressa!  Há um  cavalo sobrando  e  a  armadura do  anão.  Meta-se
                  nela antes que alguém veja.

                        - Para quê?

                        - Ora bolas! Para que possamos entrar na batalha! Não vai querer?

                        - Oh, ah... é... claro... quero - Shasta não contava com essa e começou
                  a sentir um calafrio na espinha.
                        - Ótimo - disse Corin. - Levante a cabeça. Agora, o cinto da espada.
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