Page 272 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                                SHASTA EM NÁRNIA





                        “Foi tudo um sonho?”, indagava Shasta para si mesmo. Mas não podia
                  ter sido um sonho, pois via na relva a grande e penetrante marca da pata
                  direita do Leão. Que peso devia ter! O mais espantoso, porém, veio depois:
                  a  depressão  começou  a  encher-se  de  água  e  transbordou,  formando  uma
                  correnteza que começou a descer pela relva.

                        Shasta matou a sede com um bom gole, molhou o rosto e a cabeça.
                  Era  uma  água  fria  e  clara  como  o  cristal.  Sacudindo  a  cabeça  molhada,
                  começou a observar o que se passava em redor.

                        Parecia ser ainda muito cedo. A paisagem era completamente nova a
                  seus olhos, um vale verde, respingado de árvores, através das quais pôde
                  ver  o  reflexo  de  um  rio  que  seguia  para  o  noroeste.  Serras  rochosas
                  alteavam-se  na  distância.  Virando-se,  viu  que  a  elevação  na  qual  se
                  encontrava pertencia a um bloco montanhoso bem mais alto.

                        -  Estou  entendendo:  aquelas  são  as  montanhas  entre  Arquelândia  e
                  Nárnia. Eu estava do lado de lá, ontem. Devo ter passado pelo desfiladeiro
                  durante a noite. Que sorte! Sorte coisa nenhuma, foi Ele. E agora estou em
                  Nárnia.

                        Tirou a sela e o freio do cavalo, dizendo: “Eta cavalinho ruim!” Sem
                  tomar  conhecimento,  o  animal  começou  a  pastar;  ele  também  não  tinha
                  uma boa opinião sobre Shasta.
                        - Ah, se eu gostasse de grama! Bem, não adianta nada voltar a Anvar,
                  toda  sitiada.  É  melhor  procurar  alguma  coisa  para  comer  lá  embaixo  no
                  vale.

                        Sentindo  o  orvalho  gelado  nos  pés  descalços,  chegou  a  uma  mata.
                  Passou a seguir uma espécie de trilha sob as árvores e logo depois ouviu
                  uma vozinha:

                        - Bom dia, vizinho.

                        Tentou localizar quem falara e acabou descobrindo uma criatura toda
                  espinhenta que acabava de enfiar a carinha escura entre as árvores. Era um
                  porco-espinho. Shasta respondeu:

                        - Bom dia, mas não sou vizinho. Sou um forasteiro por estas bandas.
                        - Hum? - fez o porco-espinho, inquisidor.
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