Page 273 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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- Vim pelas montanhas... lá de Arquelândia, sabe?

                        - Uma boa caminhada! Nunca fui lá.

                        - E  acho  que  alguém  deve  saber  que  um  exército  de  ferozes
                  calormanos está atacando Anvar neste instante.

                        - Não  diga!  Que  coisa!  E  contam  que  os  calormanos  habitam  a
                  centenas ou milhares de quilômetros daqui, lá no fim do mundo, depois de
                  um marzão de areia!
                        - Não é tão longe quanto você pensa. Alguma coisa precisa ser feita. O
                  seu Grande Rei precisa saber...

                        - É claro, é preciso fazer alguma coisa. Acontece que estou indo para a
                  cama tirar uma soneca. Alô, vizinho.

                        As  últimas  palavras foram  endereçadas a  um  coelho  cor-de-sorvete-
                  de-nata, cuja cabeça acabara de apontar ao lado do caminho. Pelo porco-
                  espinho,  o  coelho  ficou  a  par  da  situação.  Concordou  também  que  eram
                  notícias graves  e  que  alguém  tinha de procurar  alguém  para que  alguma
                  coisa fosse feita.

                        E  assim  foi.  A  cada  instante  novas  criaturas  surgiam,  algumas  dos
                  galhos  das  árvores,  outras  de  debaixo  da  terra,  até  que  a  reunião  ficou
                  integrada  por  cinco  coelhos,  um  esquilo,  duas  gralhas,  um  fauno  e  um
                  camundongo. Todos falavam ao mesmo tempo e todos estavam de acordo
                  com o porco-espinho.

                        A verdade era esta: naquela era de ouro e paz, quando a feiticeira e o
                  inverno  não  reinavam  mais,  e  o  Grande  Rei  Pedro  governava  em  Cair
                  Paravel,  os  serezinhos  dos  bosques  de  Nárnia  se  sentiam  tão  felizes  e
                  seguros que acabaram se tornando descuidados.
                        Mas naquele momento duas pessoas mais práticas chegaram à mata.
                  Uma era um anão vermelho cujo nome parecia ser Dufles. A outra era um
                  cervo,  uma  bela  e  senhorial  criatura  de  olhos  límpidos,  com  flancos  e
                  pernas tão esguios que pareciam poder quebrar-se à força de dois dedos.

                        - Salve o Leão! - exclamou Dufles, ao inteirar-se das notícias. - O que
                  estamos  fazendo  aqui  parados,  batendo  boca?  Inimigos  em  Anvar!  A
                  notícia tem de ser enviada imediatamente a Cair Paravel. O exército deve
                  ser convocado. Nárnia deve levantar-se para socorrer o rei Luna.

                        - Ah! - exclamou o porco-espinho. - Mas você não vai achar o Grande
                  Rei em Cair. Foi para o Norte, dar uma tunda naqueles gigantes. Aliás, por
                  falar em gigantes...

                        - Quem  levará  a  nossa  mensagem?  -  interrompeu  o  anão.  -  Existe
                  alguém aqui mais veloz do que eu?
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