Page 275 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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pouco  mais  de  cogumelo”,  ou  “que  tal  se  a  gente  fritasse  mais  uns
                  ovinhos”...

                        Depois de comerem até não poder mais, os anões tiraram a sorte para
                  saber quem lavaria os pratos. Rogin deu azar.

                        Dufles  e  Deduro  levaram  Shasta  para  um  banco  rente  à  parede
                  externa; espicharam todos as pernas, com grandes suspiros de satisfação; os
                  anões  acenderam  seus  cachimbos.  O  sol  estava  quente  e  o  orvalho
                  desaparecera da relva: chegaria a ser quente demais se não soprasse uma
                  leve viração.

                        - Agora, forasteiro - disse Dufles -, vou mostrar-lhe a terra. Daqui se
                  pode ver praticamente todo o sul de Nárnia, e temos certo orgulho da nossa
                  paisagem.  Ali  à  esquerda,  depois  daquelas  serras,  você  pode  apreciar  as
                  montanhas  do  Oeste.  Aquela  colina  arredondada  à  direita  é  a  Colina  da
                  Mesa de Pedra. Logo ali...
                        E  aí  foi  interrompido  por  um  ronco  de  Shasta,  morto  de  sono  pela
                  viagem noturna e pela excelente refeição. Os anões fizeram sinais um para
                  o outro para não despertá-lo. E cochicharam tanto, e tantos gestos fizeram
                  enquanto  se  retiravam,  que  Shasta  teria  despertado,  se  não  estivesse
                  exausto.

                        O menino dormiu o dia inteiro e só acordou para cear. As camas eram
                  pequenas demais para ele, mas os anões arranjaram-lhe uma cama de urze
                  no  chão.  Shasta  nem  sequer  se  virou  no  leito,  nem  tampouco  sonhou
                  durante  toda  a noite.  Na  manhã seguinte,  haviam  acabado de tomar  café
                  quando ouviram um barulho empolgante:

                        - Trompas! - disseram os anões. Saíram todos correndo para fora.

                        As trompas soaram de novo: não tão solenes como as de Tashbaan,
                  não  tão  alegres  quanto  as  do  rei  Luna  -  claras,  agudas,  empolgantes.  O
                  ruído, vindo das matas do oriente, logo se misturou ao barulho de cascos de
                  cavalos. Logo depois surgiu à frente deles um batalhão.

                        Vinha em primeiro lugar o Senhor de Peridan, montando um cavalo
                  baio,  empunhando  o  grande  pavilhão  de  Nárnia:  um  leão  vermelho  em
                  campo verde. Shasta o reconheceu imediatamente. Depois, três cavaleiros,
                  dois em cavalos de batalha e um sobre um pônei. Os dois primeiros eram o
                  rei Edmundo e uma dama de cabelos louros, com um rosto muito jovial,
                  usando  elmo  e  malha  de  ferro, levando além  disso um  arco cruzado nos
                  ombros  e  um  carcás  cheio  de  flechas.  (“A  rainha  Lúcia”,  murmurou
                  Dufles.)  O  do  pônei  era  Corin.  Seguia-se  o  principal  corpo  do  exército;
                  homens  em  cavalos  comuns,  homens  em  cavalos  falantes  (que  não  se
                  incomodavam  de  ser  montados  em  ocasiões  especiais),  centauros,  ursos,
                  grandes cães falantes e, por fim, seis gigantes. Pois há gigantes bons em
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