Page 274 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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- Eu sou veloz - respondeu o cervo. - Qual é a mensagem? Quantos
calormanos?
- Duzentos, chefiados por Rabadash. Além disso...
Mas o cervo já estava longe, batendo de uma só vez no chão com as
quatro patas.
- Não sei para onde ele vai - disse o coelho -, pois não encontrará o rei
em Cair Paravel.
- Encontrará a rainha Lúcia - disse Dufles. - E... o que está havendo
com o humano? Está verdinho. Está desmaiando e deve ser de fome.
Quando você comeu pela última vez, jovem?
- Ontem de manhã - respondeu Shasta, fracamente.
- Venha comigo - falou o anão, passando o seu bracinho pela cintura
de Shasta a fim de ampará-lo. - Vizinhos, que vergonha!
Murmurando acusações a si mesmo, o anão conduziu Shasta para
dentro da mata. As pernas do menino tremiam quando chegaram a uma
casinha com chaminé e fumaça. Entraram pela porta aberta e Dufles gritou:
- Alô, irmãos, temos uma visita para o café. Um cheiro simplesmente
delicioso chegou até
Shasta. Era a primeira vez que sentia o aroma de ovos com lombo
defumado e cogumelos a estalar na frigideira.
- Cuidado com a cabeça - disse Dufles. Mas já era tarde, pois Shasta
acabava de meter a testa na verga da porta. - Sente-se agora, rapaz. A mesa
é um pouco baixa para você, mas o banquinho também é baixo. Perfeito. E
aqui está o mingau... e aqui uma jarra de creme de leite... e aqui uma
colher.
Shasta já havia terminado o mingau quando os dois irmãos do anão -
Rogin e Deduro - serviram o prato de lombo com ovos e cogumelos. E
mais ainda: café, leite e torradas.
Era um paladar novo e delicioso para Shasta. Era a primeira vez que
via torradas. Também pela primeira vez via aquela coisa macia e amarela
que passavam na torrada, pois os calormanos usam, quase sempre, óleo em
vez de manteiga. E a própria casa era muito diferente da choupana escura e
cheirando a peixe de Arriche, como também era diferente dos salões
atapetados dos palácios de Tashbaan. O teto era baixinho e tudo era feito de
madeira. Havia um relógio-cuco, uma toalha de mesa com quadradinhos
vermelhos e brancos, uma jarra de flores silvestres e cortinas alvas nas
janelas. O que atrapalhava um pouco era ter de usar os talheres e as xícaras
dos anões. Mas o seu pratinho estava sempre cheio, e a todo instante os
anões diziam “manteiga, por favor”, ou “uma outra xícara de café”, ou “um